Pessoal, boa noite.
Tô passando pra avisar que os seminários de Brasil começam dia 9/05 naquela mesma ordem que divulguei no face e que combinamos em sala.
Será um grupo por dia. Qualquer dúvida mandem e-mail.
Ahhh... Nem todo mundo tem face ou acessa blog, então divulguem por favor.
Só pra lembrar...
Grupos:
1- Juazeiro (Coronelismo)
Rosana Maria
Taciana
João Santos
Thiago
Voney
2- Chibata
Sebastião
Paulo Luiz
Luiz Felipe de Abreu
Derwin
3- Contestado
Amanda Alves
João Lucas
Aline Cardoso
4- Movimento Operário:
4.1- Anarquismo / Política (Tendências)
Natália Ferraz
Felipe Aragão
Adizailma Maria (Dida)
Cíntia Marques
Sandra
4.2- Organização sindical - Greve (1917).
Alvinho Duarte
Bruno Leandro
Andrezza Bárbara
Pablo Lucena
Wellington Júnior
5- Cangaço
Alexandre Aguiar
Izabela Conceição
Janaína Paz
Raphael França
Saulo Araújo
6- Tenentismo (Coluna Prestes)
Anderson Holanda
Isabela Dias
Monike Moura
Suzane Araújo
Jéssika Adrielly.
Ats,
Juliana.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
domingo, 22 de abril de 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Resenha do livro Os bestializados o Rio de Janeiro e a República que não foi. Em cumprimento as obrigações da cadeira Brasil sete.
Prof. Dr. Isabel Guillen
Aluno. Derwin Mandú Galdino
RECIFE - 2012
Os Bestializados,
O Rio de Janeiro e a República que não foi.
Resenha
O José Murilo de Carvalho apresentar o texto inicialmente com opiniões de personalidades da época, que classificavam o povo brasileiro como apolítico não atuante em seu contexto social. Com isso o autor quer chamar a atenção para analise dicotômica baseada nos ideais do cidadão europeu, desses que viveram o período. A Linha teórica seguida por Carvalho é entender o fenômeno social do período republicano como um viés de mão-dupla mesmo que pese para um dos lados. Sendo assim ele crítica a opinião dos autores da época de que a forte opressão social é que deixava a população apática ou a interpretação da realidade desta maneira que legitimava todo o sistema, mas em contraponto a essa situação inicialmente a República vai trazer a esperança do proscênio das pessoas para a política.
Sendo um historiador tradicional expõe como os formadores de opiniões da época idealizavam uma República a moda francesa. Nesta perspectiva tradicional resgata o conceito de cidade que é tido como lugar de desenvolvimento da cidadania, com isso ele desenvolve seu caminho medotológico de entendimento da República do país, usando como ponto de partida a cidade do Rio de janeiro e a repercussão das transformações sociais, políticas e culturais desta no resto da nação. Sendo sua argumentatividade bem estruturada e convincente, pois ele comprova com dados estatísticos que a população do Rio era a maior de país, com dados geográficos, pois era capital administrativa e política do Brasil, que maior parte dos militares estava na capital, as lideranças sindicais e o desenvolvimento de uma política estruturada desde os municípios com uma rede de ligações até ao presidente.
As transformações trazidas pela República no Rio irão repercutir, da economia a vida moral, com uma política econômica diferente da época da monarquia no sentido de maior liberdade, com as pessoas praticando um capitalismo predatório de especulação inconseqüente que não pensavam na coletividade, mas em sua própria situação. Na vida moral, as pessoas deixam de casar reduzido assim o número de famílias que era o núcleo social da época. O fenômeno republicano que tinha que melhorar a vida das pessoas, pois em seu conceito original de “coisa de todos” deu assim uma esperança a muitos grupos da época, que ao ver essa transformação política pensava em reivindicar seus direitos. Porém “a coisas de todos” aqui no Brasil não foi assimilada em seu significado original, mas adaptada ao modo de grupos dominantes fazer política. Onde maior parte da população ficava excluída das mudanças que lhe poderia beneficiar. Mesmo não tendo cidadãos como copias do modelo europeu aqui no Brasil houve durante esse período formas de resistências que a nega a idéia ser o povo bestializado como o grupo dos capoeiras que atuavam no Rio de Janeiro. Porém o que se contata é que o povo depois desse período inicial tinha perdido a esperança de participação para melhora de sua situação. Com a pluralidade brasileira não existiu um líder que orquestrasse o povo reunindo a grande variedade de ideologias que não trazia um entendimento em comum entre os cidadãos, tudo isso foi usado pelos grupos dominantes para assegurar as suas riquezas. Este pode ser um modo de analise antigo marxista, porém uma vez que a parte abastada da população quase sempre na história detém os meios de forma opiniões, de coerção, recebem melhor educação e tem os meios de produção em suas mãos, então este método ainda é válido tendo em vista as permanecias da história.
Depois de mostra o Rio de Janeiro as vantagens e desvantagens da República o autor tentar definir as varias concepções de cidadania vigentes na época de mudança do regime político. Depois ele examina a participação eleitoral destes cidadãos na capital do país. Frente à grande mistura de ideais importadas, como positivismo, liberalismo e socialismo da Europa e mal assimiladas pela população. O autor deixa entender que houve uma lógica de exclusão uma vez que a cidadania era uma pratica de poucas pessoas é a própria lei da época classificavam-no em cidadãos ativos e inativos, onde os primeiros possuem os direitos civis e políticos e os segundos somente os direitos civis, pois se entendia nesta época que o direito político era por merecimento. Como bem colocado nas aulas, a perversidade desse sistema ser assim é por causa do medo, pois grande parte da população era ex- escravos ou descendente que vivia marginalizados e dá direitos de voto a essa população era perigoso, entre essa forma de exclusão outra era a de que analfabeto não podia votar, essa era mais uma maneira de deixar o povo sem saída, uma vez que o governo não era obrigado de dar educação primária.
Neste período fez muito pouco para o alastramento dos direitos civis, ainda que alguns autores pregassem que a população teria que participar mais diretamente no novo regime, pois algumas concepções de cidadania e prática política contrastavam com a exercida aqui. Esses grupos que assimilavam essas idéias vindas de fora eram unidos pela idéia de pátria ao menos no interesse de ampliação de cidadania, onde diversos setores da sociedade do período irão lutar como o contexto lhe permite uns como os militares que usavam o próprio estado para poder participar do processo, mostrando assim a intensa dependência das pessoas da época que para serem incluídas tinham que ser funcionárias do Estado, outros como os operários reivindicavam seus direitos por meios de idéias anarquistas e socialistas fazendo greves e mobilizando massas de trabalhadores. Porém a resistência de ampliação dos direitos de cidadania fez com que se perdesse o encanto inicial da República. Mas cada grupo deste tinha uma noção de cidadania os positivistas não aceitavam os partidos e a democracia representativa e somente admitia os direitos civis, Já os socialistas buscavam uma cidadania que interviesse no poder público, para os anarquistas a idéia de pátria coloca-se em primeiro lugar, enquanto que cidadania em segundo, pois eles se referiam a pátria como a própria família que é integração, é comunidade e cidadania é cálculo, é pacto, é defesa dos interesses. Mesmo com tantas versões de cidadanias nem sempre compatíveis entre si, já servir para mostra que esta população não tinha nada de bestializada e que lutava de acordo com as condições impostas. Onde na realidade segundo o autor a concepção de “cidadania” era a participação não a parti da organização de interesses, mas a parti da maquina governamental, ou em contato direto com ela.
As conflitantes propostas de cidadania indicavam tanto a insatisfação com o passado como a incerteza quanto aos rumos do futuro. Parte das divergências poderia ser atribuída a conflitos reais entre os vários grupos sociais que naquele momento começavam a mobilizar-se contra a República. A diversidade poderia ser também atribuída à insegurança dos formuladores das novas propostas e quanto à reação do público, a quem se dirigiam, ou em alguns casos, quanto à própria identidade desse público: assim o exame de cidadania deve ter como contraponto o estudo dos candidatos a cidadão e as práticas concretas de participação política. Quem eram estes cidadãos? Como o modelo de cidadania europeu irá influenciar na analise dos formadores de opinião brasileiro? Como os imigrantes irão se estabelecer e influenciar a cidadania brasileira? Dentro dá perspectiva européia idealizada, o povo que estava presente, mas de uma forma desorganizada marginal eram classificados como gentalha, escoria... Já para o governo o bom brasileiro era o republicano florianista e nacionalista; o mau povo era o estrangeiro, particularmente o português antinacional, monarquista ou na melhor das hipóteses apático a situação política. Muitos outros imigrantes chegaram ao Brasil para trabalhar nas fabricas e esses chegavam com os ideais socialistas, anarquistas da Europa, poucos queriam se naturalizar brasileiro, pois os países protegiam muito bem seus cidadãos, e não queriam servir no exército e nem arcar com os custos da naturalização. Os que aderiram em maior número à cidadania são os africanos e portugueses, os primeiros por não terem cidadania e os segundos por que o governo português não conseguia proteger seu interesse dentro do país.
Quanto à cidadania no processo eleitoral, analfabeto, mulheres, frades, menores de vinte anos e praças das forças armadas não voltavam por diferentes motivos. Porém 50% da população do Rio eram alfabetizadas, mas isso não quer dizer que esse percentual votava, pois havia um processo de auto-exclusão no processo eleitoral, pois as eleições tinham um alto índice de corrupção, era perigoso por causa dos capangas contratados para obrigar os eleitores a votar no candidato da situação. Portanto ver-se que a cidadania era uma caricatura, o cidadão republicano era o mancomunado com os políticos, os verdadeiros cidadãos mantinham–se afastados da participação do governo da capital e do país. Quanto à criação de partidos políticos a grande heterogeneidade fez com que os partidos não se fortalecessem e tivessem poucos anos de vida. “A própria República não via com bons olhos” os partidos a não ser que fosse PRM, o PRR, PRP. Todavia a população do Rio era fragmentada e socialmente independente para ter partidos únicos. De uma maneira formal pode-se dizer que o Rio não tinha povo participativo na política oficial, mas a margem dela, com greves, arruaças, quebra-quebras ou por movimentos revolucionários como a Revolta da Vacina.
A Revolta da Vacina é captura pelo autor em suas concepções dos direitos e deveres do cidadão nas relações entre individuo e o Estado. No meio desse contexto ele procura entender aspectos da mente popular no seu cotidiano e quais pessoas fazem parte dessa população?E suas motivações justificadoras. É no governo de Rodrigues Alves que para desenvolver a economia começam construções e modificações na paisagem do Rio de Janeiro, com demolições de casa, cortiços, higienização de ruas e casa para combater pragas, combate a doenças por meio da vacinação obrigatória, proibição de criação de animais no o perímetro urbano, essas são séries de decretos e medidas que iram interferir e irritar a população do Rio e principalmente a parte mais pobres. Observa-se que a revolta esteve ligada a disputas políticas e ao contexto socioeconômico do período, baixa qualidade de vida, precariedade nos serviços públicos, etc. Como exposto pelo autor a população que era altamente excluída do processo político tinha um acordo não formal com a classe política de não interferir na política diretamente e aceitar as condições impostas mesmo que em desvantagem. Contudo quando o governo quebra esse informal acordo e interferi na vida íntima das pessoas existiu logo uma inquietação dos brios de cada um, na hora das casas violadas pelos agentes do governo. Este cenário foi muito bem aproveitado pela oposição que ficava divulgando todo tipo de informação para idealiza a causa e dá cunho político. Deste modo eles conseguiram junto com a insatisfação da população contra os vários setores da política. Onde neste primeiro momento a revolta se dar em torno da vacinação obrigatória, mas depois várias revoltas aparecem dentro desta própria, como a conspiração militar-centro das classes operárias que buscava derrubar o governo; com os consumidores dos serviços públicos acertaram as velhas contas com a companhia; os produtores mal pagos; a classe popular retomou seu combate com a polícia; os cidadãos desrespeitados em seus direitos acertaram as contas com o governo. Estes vários incidentes aconteceram de uma forma fragmentada em uma sociedade já fragmentada que estava a muito tempo insatisfeita com sua posição de exclusão do processo político.
Pode-se dizer que a revolta da vacina foi uma “explosão de uma panela de pressão, com os ingredientes que a muito tempo fervia”, pois o governo com as medidas tomadas ele quis terminar de sufocar o povo, porém a população provou que a vontade geral pode ser conquistada através da luta.
No ultimo capitulo o autor tentar responder quem era este povo? Uma vez que opiniões da época eram baseadas no etnocentrismo preconceituoso europeu que constatava ser o povo desorganizado em suas revoltas, confundir a esfera pública com a privada, cita algumas tentativas fracassadas de mobilizar e organizar a população dentro dos padrões conhecidos do sistema liberal. Porém mesmo que os europeus tivessem razão este povo estava dentro de um processo formação histórica diferente e realidades distintas. Mas para o autor e para os documentos da época existiam dois tipos de cidadãos o bestializado e o bilontra. Onde o primeiro era o que participava da política, já o segundo era o que sabia se aproveitar dela em beneficio próprio. Estas características de nossa população são apresentadas pela geração de sociólogos 1930, e alguns historiadores de épocas posteriores que tentaram explicar este forte assistencialismo na política brasileira; relacionando como as características formadoras da população brasileira, que se originaram principalmente do português, indígena e africano e o nosso período colonial que é onde surgi às características políticas do brasileiro, na qual estes que não se reconhecem ainda brasileiro sempre encontraram soluções a sua maneira para os problemas encontrados na colônia que estava tão distante de sua pátria original. Nesta perspectiva ele volta às origens portuguesas para responder quais as categorias da cultura Ibérica são deixadas de heranças aos brasileiros como a grande sociabilidade intensa que visava a paz, porém não o fazia solidário, se dava na extroversão das relações pessoais dos pequenos grupos. Ao abordar este assunto por viés do dominador europeu o autor não explorar amplamente as contribuições dos grupos altamente marginalizados, negros e índios que contribuíram também para construção da República. Porém é muito fácil classificar esta população de bilontra ou bestializada, mas ao analisar o presente e observar as permanências da história fazendo relações ver que a população passou por intensas formas de intimidação, repressão e retaliação que ameaçava sua existência, e quando a vida esta posta em risco quem quer ser o primeiro a morrer por todos, ou por uma causa.
O autor levanta questões muito importantes como o analfabetismo e sua importância para deixa a população fora da política, ao mostrar o Rio como influenciador da realidade do Brasil, argumenta de forma convincente e prova com dados seus argumentos. Porém toma o caminho da generalização e não mostra como cada o regionalismo também influenciou o Rio de Janeiro. Ele também reforça esta tendência da historiografia brasileira de colocar o centro econômico e de produção intelectual que é o sudeste para ter uma postura determinante nos caminhos dados para as possibilidades da história. Quanto à cidadania o autor levanta um importante debate que esteve presente naquela época e que afligi a sociedade brasileira de hoje, fazendo repensar se é bom simplesmente passar pela história ou tentar modificá-la para as próximas gerações.
Referências
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala; Rio de Janeiro OLYMPIO, 1966.
PRADO, Caio Junior. Formação do Brasil contemporâneo; São Paulo, BRASILIENSE, 1997
sábado, 21 de abril de 2012
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não
foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
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Jéssika Adrielly
Redimensionando
a participação popular na transição para a República, José Murilo de Carvalho,
em Os Bestializados, abastece-nos com
uma série de consistentes reflexões concernentes as estruturas políticas do Rio
de Janeiro, então, capital política e administrativa do país. Refuta as
assertivas que pintam com as cores do imobilismo e da apatia as condutas
populares. Desse modo, é que as ideias suscitadas nesta obra são perpassadas
pela discussão atinente a construção da cidadania no Brasil.
Sob
a pecha de bestializados, essa “massa” foi caracterizada, pelos apologistas
republicanos, como desprovida de tradição cívica e de envolvimento com as
normas do mundo político. Em José Murilo de Carvalho a perspectiva é distinta,
afinal, “o povo sabia que o formal não
era sério. Não havia caminhos de participação, a República não era para valer.
Nessa perspectiva, o bestializado era quem levasse a política a sério, era o
que se prestasse à manipulação”.[1]
Aqui a participação política do povo é manifesta fora dos canais oficiais
da política, noutras instâncias e com seus próprios ritmos, portanto, greves,
quebra-quebra e arruaças eram comuns na cidade. Aliás, é precisamente da cidade
do Rio de Janeiro que vai se deter no primeiro capitulo do livro.
Eivada de conflitos de todo tipo, a capital
fluminense vivenciara um intenso recrudescimento de sua população, implicando
precarização das residências e das condições de vida, ao passo que convivia
também com dificuldades inflacionárias e a ampliação dos índices de
criminalidade. Eis o Rio de Janeiro do início da república, em certa medida,
caixa de ressonância do Brasil.
A
implantação do regime republicano não significou a redução da exclusão destas
camadas, ao contrário, representou, em alguns aspectos, continuidade ou mesmo
acréscimo. Convém uma digressão: é, aliás, por acentuar aspectos “modernos” do
império brasileiro que José Murilo de Carvalho vem sendo caracterizado por
alguns críticos de monarquista. Assertiva retrucada, “não era minha intenção defender a monarquia, eu não estava sendo
monarquista quando me manifestei” [2].
Para
corroborar a sua tese - “quem apenas assistia, como fazia o povo do Rio por
ocasião das grandes transformações realizadas a sua revelia, estava longe de
ser bestializado. Era bilontra”[3] - José Murilo de Carvalho
vai buscar no desenrolar da Revolta da Vacina um exemplo. Não encontrará, ao
modo de Sevcenko, “mentes insanas”. Multifacetada, o autor explicará a revolta
recorrendo aos padrões de moralidade das classes populares que resistiu às
ações invasivas do Estado republicano. Era contra a invasão do lar e da sua
privacidade que o povo que se mobilizava. Nesse sentido, a revolta
caracterizar-se-ia, fundamentalmente, por “razões
ideológicas e morais”.[4]
Essas
repúblicas, que se mantinham nos subterfúgios da cidade, e que não se deixavam
dominar inteiramente pela República Liberal, essas estruturas comunitárias – o
samba, o carnaval, as irmandades e etc.– não se encaixavam in totum ao
liberalismo dominante da política formal, são elas que, paradoxalmente, serão
caracterizadas como os elementos mais “autênticos” da cultura nacional.
As
incursões historiográficas de José Murilo de Carvalho na historiografia,
seguramente, produziram saldo positivo. Ainda que não sejam negligenciáveis as críticas
que vem sofrendo dos seus mais coevos interlocutores. A ideia que subjaz na
obra é que de fato o povo, apesar de não ser bestializado/tolo, foi de passivo.
O conceito de bilontra, nesse sentido, remove o povo do papel de espectador
passivo e coloca-o no de espectador ativo. Deliberadamente, escolheram não
participar. [5]
Seria, pois, o excesso de compreensão, e não sua insuficiência, que explicaria
a passividade do povo. Mas esta continua, nas linhas gerais de “Os
Bestializados”, como um dado. Sobrevém, na perspectiva de seus críticos, uma
representação “um tanto estática, baseada
na formulação da "Republica que não foi", vale dizer que não teve
representação ou participação política, que não construiu cidadãos e não teve
povo”[6]. O desinteresse do povo
pela política, deste modo, emerge como derivação do argumento. Assertiva, ao
menos, controversa.
Para
além de todas as possíveis objeções, a obra de José Murilo de Carvalho já se
converteu em parada obrigatória para os estudiosos da história do Brasil. Onde
os ‘visitantes’ encontraram uma interpretação bastante singular dos albores da
República e da cidadania no Brasil.
[1] CARVALHO, José Murilo de. Os
bestializados: o Rio de Janeiro e a Republica que não foi. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987, p.160.
[2] Entrevista com
José Murilo de Carvalho. Entrevista concedida em 9 de outubro de 1998 a Lucia
Lippi Oliveira, Marieta de Moraes Ferreira e Celso Castro.
[3] Ibidem.
[5] MAGALHÃES, Marcelo de Souza. Ecos da Política: A Capital
Federal, 1892 – 1902.
Niterói: UFF/ICHF (tese de
doutorado em História), 2004.
[6] BONAFÉ, Luigi. Como se Faz um herói republicano:
Joaquim Nabuco e a República. Tese de Doutorado: Orientadora, Ângela de Castro
Gomes, Universidade Federal Flumimense, 2008, p. 100.
terça-feira, 17 de abril de 2012
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
Rosana Maria dos Santos
Resenha
O texto propõe analisar o livro de José Murilo de Carvalho cujo título é: Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. José Murilo de Carvalho é graduado em sociologia e política pela Universidade Federal de Minas Gerais e pós-doutor em História da América Latina pela University of London. Autor de vários livros e artigos relacionados ao período Imperial e o Republicano. Atualmente atua no programa de pós-graduação da universidade Federal do Rio de Janeiro onde desenvolve pesquisas nas áreas de história intelectual, Cidadania, Republica formação da nação, imaginário e pensamento conservador. O autor também é referencia em história do período republicano, pois apresenta uma vasta bibliografia sobre o assunto como, por exemplo, o artigo “República, democracia e federalismo Brasil, 1870-1891”. Nesse artigo o autor discute como foi a transformação dos radicais liberais em republicanos, ocorrida a partir do manifesto Republicano de 1870 e como esse processo de transformação provocou um retrocesso conservador e suspendeu o programa de reformas sociais e políticas no Brasil, essa idéia foi proposta pelos radicais durante a década de 1860
Mas, ao mesmo tempo em que José Murilo de Carvalho é referência em história do Brasil Império e Primeira República, o autor também recebe várias críticas sobre suas obras e principalmente sobre a obra que será discutida nessa resenha, em que muitos autores buscam compreender esse conceito de “bestializado” presente na obra de José Murilo de Carvalho, como por exemplo a obra de Stéphane Monclaire cujo título é: “Democracia, transição e consolidação:precisões sobre conceitos bestializados”.
A obra que será resenhada contém cento e noventa e seis páginas está dividida em cinco capítulos cujos títulos são: O Rio de Janeiro e a República, República e cidadanias, Cidadão Inativos: abstenção eleitoral, cidadão ativos: a revolta da Vacina, Bestializados os bilontras?. Nessa obra o autor procura discutir os elementos principais da república no Rio de Janeiro. No título o autor já deixa claro a idéia central de seu livro, “Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi”, mas, é a partir do capítulo três que o autor vai discutir a idéia central de seu texto que é: o “povo” da capital do país assistiu bestializado a proclamação da república? O “povo” do Rio de Janeiro era realmente apolítico?(CAVALHO, 1987, p.68).
No primeiro capítulo (O Rio de Janeiro e a República) José Murilo de Carvalho, afirma que a cidade do Rio de Janeiro de Janeiro passou durante a primeira década da República por uma fase turbulenta de sua existência. Onde ocorreram grandes transformações de natureza econômica, política, social e cultural. As mudanças no regime político, segundo o autor, causaram grandes agitações na capital do país e só começaram a acalmar no final da década.
Para o autor o que levou a cidade do Rio de Janeiro a sentir com maior intensidade os impactos que ocorreram no país após a proclamação da República, foi o fato do Rio de Janeiro ser maior cidade e a capital econômica, política e cultural o país.
A república não ocorreu como um grande acontecimento da época, ou seja, a cidade do Rio de Janeiro já vinha passando por transformações sociais e econômicas de ressonância nacional, esses acontecimentos tiveram um grande impacto na vida dos que moravam na capital do país. Dentre esses fatos pode-se citar a abolição da escravidão. Essa nova realidade trouxe novas realidades para a cidade do Rio de Janeiro, uma delas foi o crescimento demográfico, que alterou a população da capital em termos de números de habitantes, de composição étnica e de estrutura ocupacional. Segundo o autor,
A abolição lançou o restante da mão-de-obra escrava no mercado de trabalho livre e engrossou o contingente de subempregados e desempregados. Alem disso provocou um êxodo para a cidade proveniente da região cafeeira do estado do Rio de Janeiro e um aumento na imigração estrangeira, especialmente de portugueses (CARVALHO, 1987, p.16).
Segundo o autor, em termos absolutos a população quase dobrou entre 1872 e 1890, passando de 266 mil a 522 mil. Além disso, a cidade ainda teve que absorver mais 200 mil novos habitantes na última década do século.
Esse aumento populacional trouxe impactos sobre as condições de vida, como conseqüentes pressões sobre a administração municipal. Os problemas de habitação agravaram-se tanto em termos quantitativos quanto em termos qualitativos. Para solucionar esse problema foram criadas várias leis que conseqüentemente levaram a diversas revoltas, dentre elas a revolta da Vacina.
Outro problema enfrentado pela república foi o aumento do custo de vida agravado pela imigração, que ampliava a oferta de mão de obra e acirrava a luta pelos empregos.
A proclamação da república, não acarretou só prejuízos para a capital ela trouxe também novas expectativas de renovação política, houve uma maior participação no poder por parte não só da contra-elite, mas também, da classe excluída.
Acreditando que as mudanças poderiam ocorrer os operários tentaram organizar-se em partidos, promoveram greves, seja por motivos políticos ou por um aumento do seu poder aquisitivo que vinha decaído em virtude da inflação.
A economia enfrenta índices inflacionários absurdos, ideais para as elites, por causa da especulação, mas terrível para as classes populares.
Mas, o único setor da população excluída a ter uma atuação na República foram a dos capoeira. Eles foram perseguidos logo no inicio da republica, mas a mesma não conseguiu destruí-los, mas sim “domesticá-los” criando condições para a sua reincorporarão ao novo sistema de forma mais discreta.
O autor também descreve ao longo do capitulo da vida social da cidade. Para ele: “o pecado popularizou-se, personificou-se”. Os Cortiços se proliferaram na cidade vários jornais da época com freqüência traziam noticias sobre essas habitações e os sujeitos que os constituía.
O capítulo Repúblicas e Cidadania o autor disserta sobre a grande influência que o fim do Império e o inicio da República sofreu com idéias vindas da Europa. Contudo, esses pensamentos não eram bem absorvidos ou muitas vezes eram mal interpretados, resultando muitas vezes em uma confusão ideológica. O liberalismo, positivismo, socialismo, anarquismo misturavam-se e combinavam-se ao mesmo tempo. E nessa época também que começa fortes discussões sobre cidadania, uma vez que, com já foi dito anteriormente no inicio da República houve um aumento de contingente de estrangeiros para o Brasil, sobretudo os que vinham de Portugal. Assim no início da República emergiram várias concepções sobre cidadania nem sempre compatíveis entre si. A mudança para um novo regime despertou na população uma expectativa de expansão dos seus direitos políticos nos mais diversos setores da população. Em síntese o que ocorreu de fato, foi que a vitoriosa elite civil republicana se deteve ao conceito liberal de cidadania, assim como também essa elite criou obstáculos para democratização dos direitos civis a todos os cidadão. Diante das dificuldades em tornar o país mais democrático e igualitário o povo se articulava de todas as formas. Surgiram na época vários partidos operários. Vários grupos também se articulavam. Jornais foram criados na época o Nihilista (1883), jornal dos operários, do exercito da armada; união do povo (1887).
Após a proclamação da República houve uma tentativa de organizá-los. A primeira tentativa deveu-se aos positivistas. Em 1889, Teixeira Mendes reuniu-se com quatrocentos operários da União e discutiu um documento que entregou a Benjamin Constant, que ocupava o cargo de ministro de guerra. No documento os operários pediam uma jornada de trabalho de sete horas, descanso semanal, férias de quinze dias, licença remunerada para tratamento de saúde.
Posteriormente em 1890, houve uma tentativa de criar um partido operário onde os operários do setor privado também poderiam participar. Mas em virtudes de divergências entre os líderes operários França e Silva que lutava por um partido controlado pelos próprios operários, e o tenente José Augusto Vinhaes, da marinha, que organizou um partido sob sua liderança. Vinhaes tinha suas bases principais entre os ferroviários e portuários. Mas, segundo José Murilo de Carvalho, Vinhaes serviu de intermediário entre operários e o estado. Para o autor, até as tentativas dos militares de ter acesso a cidadania mais ampla se deu “pelos porteiros do estado”.
Nos três últimos capítulos o autor descreve a grande efervescência ideológica que marcou os anos iniciais da republica, as propostas de cidadania que convergiam entre sim. O período republicano foi marcado por um sentimento de insatisfação com o passado e ao mesmo tempo uma incerteza quanto ao futuro.
E foram as incertezas que fizeram com que o povo do Rio de Janeiro, quando necessário para a defesa de seus interesses, se rebelou contra o sistema republicano. Segundo José Murilo existia uma mentalidade internacional na qual se acreditava que não havia participação do povo nos negócios do Brasil. a política era na melhor das hipóteses, assunto dos estados-maiores das classes dominantes. Produto das rivalidades de chefes militares, entrando o povo apenas como massa de manobra. Para Aristides Lobo “o povo teria assistido bestializado a proclamação da republica, sem entender o que se passava” (CARVALHO, 1987, p.68).
A apatia do povo era particularmente dolorosa e frustrante para homens como Aristides Lobo e Raul Pompéia. Mas a afirmação da inexistência de um povo apolítico para o autor é exagerada, No Rio de Janeiro desde a independência já havia uma intensa participação popular, sobretudo durante o primeiro reinado e a regência.
Pelo critério da participação eleitoral, pode-se dizer que de fato não havia povo político no Rio de Janeiro. O pequeno eleitorado existente era boa parte composto por funcionários públicos, sujeitos a pressão da parte do governo. Assim é que, por exemplo, na paróquia de São Cristovão, um bairro operário, 38% dos alistados em 1890 eram funcionários públicos (CARVALHO, 1987, p.86)
Segundo José Murilo de Carvalho, o que ocorreu de fato foi que as classes populares não viam com tanto entusiasmo a república, o povo tinham forte simpatia pela monarquia, pela figura do imperador D. Pedro II e da princesa Isabel, sobretudo os negros, com a recente abolição.
Muitos movimentos populares marcaram essa época como a revolta do Vintém, em 1880, onde mais de cinco mil pessoas reuniram-se no centro da cidade e provocaram grandes tumultos. Em 1904 a revolta da vacina será a maior expressão da insatisfação popular frente à política vigente. Durante uma semana os populares invadiram as ruas do Rio de Janeiro. “A cidade praticamente parou diante da revolta do povo”. (CARVALHO, 1987, 72).
Existia uma enorme distância entre o ideal Republicano e a vida das classes populares. As duras repressões feitas pela administração pública contra os capoeiras, os bicheiros e as intervenções nos cortiços, ocasiões em que era percebido um clima de guerra, isso tudo levou a “classe oprimida” a desacreditar em uma melhor qualidade de vida após a proclamação da República. O governo republicano também procurou tirar os militares do jogo e reduzir o nível de participação popular. Procurou cooptar as oligarquias a fim de formar sua sustentação política, governando “por cima” da multidão, vista como obstáculo à implantação do novo regime.
A análise do tipo de participação popular longe da política, da representação, enfim, da formalidade, mostra a distinção, na sociedade carioca, da política real e da política formal.
O autor também discute em seu livro o termo “bilontra”, que é o cidadão que tem consciência da forma de exercício do poder real e mobiliza-se dentro do espaço que lhe é permitido atuar, paralelamente ao governo.
Assim, obra de José Murilo de Carvalho nos permite compreender e refletir sobre os acontecimentos que ajudaram a construir o país atual. O povo do Rio de Janeiro não assistiu bestializado a proclamação da República. Entretanto, não podemos negar as críticas feitas por Raul Pompéia e Aristides Lobo quando afirmavam: “o povo assistiu bestializado a proclamação da República”, talvez para esses autores o termo “bestializado” seja identifico como um povo não preocupado em chegar ao poder em mudar uma realidade precária de vida. O povo lutou sempre por causas reacionárias poucos profundas como a revolta da Vacina. Existiam problemas sociais e políticos mais profundos, mas, os “revoltosos” preferiram ficar “bestializados”, pois não se mostraram nem antipatia nem simpatia ao novo sistema.
O povo do Rio, quando participava politicamente, o fazia fora dos canais oficiais, através de greves políticas, de arruaças, de quebra-quebra [...] Do governo queria principalmente que o deixasse em paz. (CARVALHO, 1987, p.90)
Referências Bibliográficas
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
________, República, democracia e federalismo Brasil, 1870-1891. Disponível em publicação eletrônica na internet via http://www.scielo.br/scielo.php.
Rosana Maria dos Santos
Resenha
O texto propõe analisar o livro de José Murilo de Carvalho cujo título é: Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. José Murilo de Carvalho é graduado em sociologia e política pela Universidade Federal de Minas Gerais e pós-doutor em História da América Latina pela University of London. Autor de vários livros e artigos relacionados ao período Imperial e o Republicano. Atualmente atua no programa de pós-graduação da universidade Federal do Rio de Janeiro onde desenvolve pesquisas nas áreas de história intelectual, Cidadania, Republica formação da nação, imaginário e pensamento conservador. O autor também é referencia em história do período republicano, pois apresenta uma vasta bibliografia sobre o assunto como, por exemplo, o artigo “República, democracia e federalismo Brasil, 1870-1891”. Nesse artigo o autor discute como foi a transformação dos radicais liberais em republicanos, ocorrida a partir do manifesto Republicano de 1870 e como esse processo de transformação provocou um retrocesso conservador e suspendeu o programa de reformas sociais e políticas no Brasil, essa idéia foi proposta pelos radicais durante a década de 1860
Mas, ao mesmo tempo em que José Murilo de Carvalho é referência em história do Brasil Império e Primeira República, o autor também recebe várias críticas sobre suas obras e principalmente sobre a obra que será discutida nessa resenha, em que muitos autores buscam compreender esse conceito de “bestializado” presente na obra de José Murilo de Carvalho, como por exemplo a obra de Stéphane Monclaire cujo título é: “Democracia, transição e consolidação:precisões sobre conceitos bestializados”.
A obra que será resenhada contém cento e noventa e seis páginas está dividida em cinco capítulos cujos títulos são: O Rio de Janeiro e a República, República e cidadanias, Cidadão Inativos: abstenção eleitoral, cidadão ativos: a revolta da Vacina, Bestializados os bilontras?. Nessa obra o autor procura discutir os elementos principais da república no Rio de Janeiro. No título o autor já deixa claro a idéia central de seu livro, “Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi”, mas, é a partir do capítulo três que o autor vai discutir a idéia central de seu texto que é: o “povo” da capital do país assistiu bestializado a proclamação da república? O “povo” do Rio de Janeiro era realmente apolítico?(CAVALHO, 1987, p.68).
No primeiro capítulo (O Rio de Janeiro e a República) José Murilo de Carvalho, afirma que a cidade do Rio de Janeiro de Janeiro passou durante a primeira década da República por uma fase turbulenta de sua existência. Onde ocorreram grandes transformações de natureza econômica, política, social e cultural. As mudanças no regime político, segundo o autor, causaram grandes agitações na capital do país e só começaram a acalmar no final da década.
Para o autor o que levou a cidade do Rio de Janeiro a sentir com maior intensidade os impactos que ocorreram no país após a proclamação da República, foi o fato do Rio de Janeiro ser maior cidade e a capital econômica, política e cultural o país.
A república não ocorreu como um grande acontecimento da época, ou seja, a cidade do Rio de Janeiro já vinha passando por transformações sociais e econômicas de ressonância nacional, esses acontecimentos tiveram um grande impacto na vida dos que moravam na capital do país. Dentre esses fatos pode-se citar a abolição da escravidão. Essa nova realidade trouxe novas realidades para a cidade do Rio de Janeiro, uma delas foi o crescimento demográfico, que alterou a população da capital em termos de números de habitantes, de composição étnica e de estrutura ocupacional. Segundo o autor,
A abolição lançou o restante da mão-de-obra escrava no mercado de trabalho livre e engrossou o contingente de subempregados e desempregados. Alem disso provocou um êxodo para a cidade proveniente da região cafeeira do estado do Rio de Janeiro e um aumento na imigração estrangeira, especialmente de portugueses (CARVALHO, 1987, p.16).
Segundo o autor, em termos absolutos a população quase dobrou entre 1872 e 1890, passando de 266 mil a 522 mil. Além disso, a cidade ainda teve que absorver mais 200 mil novos habitantes na última década do século.
Esse aumento populacional trouxe impactos sobre as condições de vida, como conseqüentes pressões sobre a administração municipal. Os problemas de habitação agravaram-se tanto em termos quantitativos quanto em termos qualitativos. Para solucionar esse problema foram criadas várias leis que conseqüentemente levaram a diversas revoltas, dentre elas a revolta da Vacina.
Outro problema enfrentado pela república foi o aumento do custo de vida agravado pela imigração, que ampliava a oferta de mão de obra e acirrava a luta pelos empregos.
A proclamação da república, não acarretou só prejuízos para a capital ela trouxe também novas expectativas de renovação política, houve uma maior participação no poder por parte não só da contra-elite, mas também, da classe excluída.
Acreditando que as mudanças poderiam ocorrer os operários tentaram organizar-se em partidos, promoveram greves, seja por motivos políticos ou por um aumento do seu poder aquisitivo que vinha decaído em virtude da inflação.
A economia enfrenta índices inflacionários absurdos, ideais para as elites, por causa da especulação, mas terrível para as classes populares.
Mas, o único setor da população excluída a ter uma atuação na República foram a dos capoeira. Eles foram perseguidos logo no inicio da republica, mas a mesma não conseguiu destruí-los, mas sim “domesticá-los” criando condições para a sua reincorporarão ao novo sistema de forma mais discreta.
O autor também descreve ao longo do capitulo da vida social da cidade. Para ele: “o pecado popularizou-se, personificou-se”. Os Cortiços se proliferaram na cidade vários jornais da época com freqüência traziam noticias sobre essas habitações e os sujeitos que os constituía.
O capítulo Repúblicas e Cidadania o autor disserta sobre a grande influência que o fim do Império e o inicio da República sofreu com idéias vindas da Europa. Contudo, esses pensamentos não eram bem absorvidos ou muitas vezes eram mal interpretados, resultando muitas vezes em uma confusão ideológica. O liberalismo, positivismo, socialismo, anarquismo misturavam-se e combinavam-se ao mesmo tempo. E nessa época também que começa fortes discussões sobre cidadania, uma vez que, com já foi dito anteriormente no inicio da República houve um aumento de contingente de estrangeiros para o Brasil, sobretudo os que vinham de Portugal. Assim no início da República emergiram várias concepções sobre cidadania nem sempre compatíveis entre si. A mudança para um novo regime despertou na população uma expectativa de expansão dos seus direitos políticos nos mais diversos setores da população. Em síntese o que ocorreu de fato, foi que a vitoriosa elite civil republicana se deteve ao conceito liberal de cidadania, assim como também essa elite criou obstáculos para democratização dos direitos civis a todos os cidadão. Diante das dificuldades em tornar o país mais democrático e igualitário o povo se articulava de todas as formas. Surgiram na época vários partidos operários. Vários grupos também se articulavam. Jornais foram criados na época o Nihilista (1883), jornal dos operários, do exercito da armada; união do povo (1887).
Após a proclamação da República houve uma tentativa de organizá-los. A primeira tentativa deveu-se aos positivistas. Em 1889, Teixeira Mendes reuniu-se com quatrocentos operários da União e discutiu um documento que entregou a Benjamin Constant, que ocupava o cargo de ministro de guerra. No documento os operários pediam uma jornada de trabalho de sete horas, descanso semanal, férias de quinze dias, licença remunerada para tratamento de saúde.
Posteriormente em 1890, houve uma tentativa de criar um partido operário onde os operários do setor privado também poderiam participar. Mas em virtudes de divergências entre os líderes operários França e Silva que lutava por um partido controlado pelos próprios operários, e o tenente José Augusto Vinhaes, da marinha, que organizou um partido sob sua liderança. Vinhaes tinha suas bases principais entre os ferroviários e portuários. Mas, segundo José Murilo de Carvalho, Vinhaes serviu de intermediário entre operários e o estado. Para o autor, até as tentativas dos militares de ter acesso a cidadania mais ampla se deu “pelos porteiros do estado”.
Nos três últimos capítulos o autor descreve a grande efervescência ideológica que marcou os anos iniciais da republica, as propostas de cidadania que convergiam entre sim. O período republicano foi marcado por um sentimento de insatisfação com o passado e ao mesmo tempo uma incerteza quanto ao futuro.
E foram as incertezas que fizeram com que o povo do Rio de Janeiro, quando necessário para a defesa de seus interesses, se rebelou contra o sistema republicano. Segundo José Murilo existia uma mentalidade internacional na qual se acreditava que não havia participação do povo nos negócios do Brasil. a política era na melhor das hipóteses, assunto dos estados-maiores das classes dominantes. Produto das rivalidades de chefes militares, entrando o povo apenas como massa de manobra. Para Aristides Lobo “o povo teria assistido bestializado a proclamação da republica, sem entender o que se passava” (CARVALHO, 1987, p.68).
A apatia do povo era particularmente dolorosa e frustrante para homens como Aristides Lobo e Raul Pompéia. Mas a afirmação da inexistência de um povo apolítico para o autor é exagerada, No Rio de Janeiro desde a independência já havia uma intensa participação popular, sobretudo durante o primeiro reinado e a regência.
Pelo critério da participação eleitoral, pode-se dizer que de fato não havia povo político no Rio de Janeiro. O pequeno eleitorado existente era boa parte composto por funcionários públicos, sujeitos a pressão da parte do governo. Assim é que, por exemplo, na paróquia de São Cristovão, um bairro operário, 38% dos alistados em 1890 eram funcionários públicos (CARVALHO, 1987, p.86)
Segundo José Murilo de Carvalho, o que ocorreu de fato foi que as classes populares não viam com tanto entusiasmo a república, o povo tinham forte simpatia pela monarquia, pela figura do imperador D. Pedro II e da princesa Isabel, sobretudo os negros, com a recente abolição.
Muitos movimentos populares marcaram essa época como a revolta do Vintém, em 1880, onde mais de cinco mil pessoas reuniram-se no centro da cidade e provocaram grandes tumultos. Em 1904 a revolta da vacina será a maior expressão da insatisfação popular frente à política vigente. Durante uma semana os populares invadiram as ruas do Rio de Janeiro. “A cidade praticamente parou diante da revolta do povo”. (CARVALHO, 1987, 72).
Existia uma enorme distância entre o ideal Republicano e a vida das classes populares. As duras repressões feitas pela administração pública contra os capoeiras, os bicheiros e as intervenções nos cortiços, ocasiões em que era percebido um clima de guerra, isso tudo levou a “classe oprimida” a desacreditar em uma melhor qualidade de vida após a proclamação da República. O governo republicano também procurou tirar os militares do jogo e reduzir o nível de participação popular. Procurou cooptar as oligarquias a fim de formar sua sustentação política, governando “por cima” da multidão, vista como obstáculo à implantação do novo regime.
A análise do tipo de participação popular longe da política, da representação, enfim, da formalidade, mostra a distinção, na sociedade carioca, da política real e da política formal.
O autor também discute em seu livro o termo “bilontra”, que é o cidadão que tem consciência da forma de exercício do poder real e mobiliza-se dentro do espaço que lhe é permitido atuar, paralelamente ao governo.
Assim, obra de José Murilo de Carvalho nos permite compreender e refletir sobre os acontecimentos que ajudaram a construir o país atual. O povo do Rio de Janeiro não assistiu bestializado a proclamação da República. Entretanto, não podemos negar as críticas feitas por Raul Pompéia e Aristides Lobo quando afirmavam: “o povo assistiu bestializado a proclamação da República”, talvez para esses autores o termo “bestializado” seja identifico como um povo não preocupado em chegar ao poder em mudar uma realidade precária de vida. O povo lutou sempre por causas reacionárias poucos profundas como a revolta da Vacina. Existiam problemas sociais e políticos mais profundos, mas, os “revoltosos” preferiram ficar “bestializados”, pois não se mostraram nem antipatia nem simpatia ao novo sistema.
O povo do Rio, quando participava politicamente, o fazia fora dos canais oficiais, através de greves políticas, de arruaças, de quebra-quebra [...] Do governo queria principalmente que o deixasse em paz. (CARVALHO, 1987, p.90)
Referências Bibliográficas
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
________, República, democracia e federalismo Brasil, 1870-1891. Disponível em publicação eletrônica na internet via http://www.scielo.br/scielo.php.
Besta é tu?
Besta é tu?
Por Aline Cardoso
José
Murilo de Carvalho traça em “O Bestializados. O Rio de Janeiro e república que
não foi” um panorama sobre esse momento inicial da República brasileira em
gênese imersa num contexto de ressignificações que se apresentavam não apenas
no campo político, como na própria sociedade e na cultura brasileira no início
do século XX. O autor trata desses aspectos tendo como referência os valores, o
cotidiano, a política, a mentalidade da então capital do Brasil, a cidade do
Rio de Janeiro.
O
autor inicia o texto indo direto ao ponto que anuncia no próprio título do
livro, com a citação do ilustre Aristides Lobo que disse “ o povo que pelo
ideário republicano deveria ter sido protagonista dos acontecimentos assistira
a tudo bestializado, sem compreender o que se passava, julgando ser talvez uma
parada militar.” O adjetivo que Lobo dá ao povo tendo em vista sua percepção
sobre a participação popular no movimento Republicano reflete o pensamento de
alguns intelectuais contemporâneos dele e que, ao longo do texto, José Murilo
tenta reconstruir.
Ora concordando com essa visão, quando
apresenta o não enquadramento do povo brasileiro aos padrões de civilidade
europeus, como tanto ansiavam os intelectuais da elite abolicionista, republicana
e Liberal como o próprio Lobo e Raul Pompéia. Como também, corroborando com
essa ótica, Murilo, traz a opinião dos próprios Europeus que visitaram ou
viveram nesta época no Rio de Janeiro como o francês Louis Couty que disse “o Brasil
nem mesmo teria um povo”. Ora apresentando as limitações que esta visão
preconceituosa carrega, fazendo o leitor refletir sobre as manifestações
populares representadas nas peculiaridades históricas e culturais próprias do
Brasil. Refletindo sobre como essa participação política popular era
indiferentes aos mecanismos oficiais de participação, com seus próprios meios
de se organizar( como Murilo cita: nas
organizações em torno da religião, nas associações de bairro, no carnaval, no
futebol...) e até mesmo quando essa participação se apresentava contra as
ordens estatais quando essas lhe desagradavam (A revolta da Vacina é o exemplo
mais latente nesse sentido na obra) ou quando ela só se relacionava com o
Estado quando lhe era favorável, demonstrando as origens da esperteza atribuída
a imagem que ate hoje se faz dos brasileiros, a qual na obra Carvalho trata
como os “Bilontras”, como apelidou Artur de Azevedo, citado pelo autor.
O
entendimento dessas percepções vai ser uma grande preocupação do Autor, que
distribuindo a obra em cinco capítulos, além da introdução e da conclusão, vai
tentar passar para o leitor como se deu essa construção histórica em que se
interligam as temáticas da discussão proposta em “Os Bestializados” que, como o
próprio Carvalho concluiu “girou em torno de três temas e das relações entre
eles: o tema do regime político(a República), o tema da Cidade( o Rio de
Janeiro) e o tema da prática popular( a cidadania)”(p.161).
Tendo em vista a referida obra, segue uma breve síntese
do que capítulo a capítulo, José Murilo de Carvalho organiza e fundamenta suas
argumentações.
No
primeiro capítulo – O Rio de Janeiro e
a República – o autor faz um
apanhado das questões latentes na cidade
do Rio de Janeiro apresentando os contexto social, político, econômico e
cultural durante os primeiros anos da nascente República brasileira. Dentre essas
questões, destaca inicialmente o crescimento demográfico, associado ao
êxodo rural, aumento da imigração que, aliado ao contexto pós-abolição da
escravidão, relacionando-os aos problemas próprios desse fenômeno de
urbanização desorganizada e rápida que acarretou desde problemas habitacionais a
formação de uma classe de marginalizados associados ou não a criminalidade. No aspecto
financeiro, cita o período marcado por
uma febre especulativa na ânsia por enriquecimento, pela constante emissão de
moeda (pelo governo), da famosa política do “encilhamento”. Aborda ainda, a construção das mentalidades, outro elemento
marcante no período, seria caracterizado pela importação de ideologias
estrangeiras – positivismo, anarquismo, liberalismo e socialismo como
principais influências na elaboração do discurso político-ideológico do
período. a idéia principal desta
primeira parte do livro tem em síntese relação com um tom de frustração na
expectativa de ampliação da participação política popular com a mudança de
regime do imperial para o republicano. Essa frustação é caracterizada da seguinte
maneira por José Murilo “ o submundo da cultura popular engoliu aos poucos o
mundo sobreterrâneo da cultura das elites. Das repúblicas renegadas ela
República foram surgindo os elementos que constituíram uma primeira identidade
coletiva da cidade, materializada nas grandes celebrações do carnaval e do
futebol.”(p.41).
No
segundo capítulo – República e cidadanias – o autor descreve
o cenário político-ideológico do período em que se insere essa República em
gênese. Intimamente relacionada comas ideologias vigentes no continente europeu
da época, marcando o processo de disseminação dos valores burgueses na
mentalidade da elite fluminense. Fazendo uma breve relação de fatos históricos
e posicionamentos políticos que vigoravam no período travados entre os mais
radicais republicanos e os mais conservadores.
No terceiro capítulo – Cidadãos inativos: abstenção eleitoral –
o historiador discute a participação efetiva (ou não) do povo, no que
oficialmente singulariza a cidadania numa visão mais oficial dentro de um
regime democrático, como deveria ser no novo modelo Republicano, ou seja,
através do voto. Inicia o capítulo citando o pensamento de intelectuais
estrangeiros como Louis Couty e Blondel, sobre esse “cidadão brasileiro”, que
Carvalho identifica, por um lado, como preconceito e um exagerado por parte
desses intelectuais acerca da sociedade brasileira visto que eles
desconsideravam as peculiaridades históricas de nosso suas povo, tentando
adapta-los a conceitos de cidadania e civilidade tipicamente europeias. Coloca
também como essas idéias influenciaram também pensadores brasileiros, como
Aristides Lobo. Critica essa visão colocando as manifestações não oficiais( ou
seja, aquelas que o povo demonstrava longe das urnas), por exemplo, as greves
operárias e as ‘arruaças’ que seriam, identificando-as como uma forma de
participação política. Além disso, apresenta as limitações do regime eleitoral
completamente excludente e ineficiente do período, que caracteriza por fraudes
e baixa participação eleitoral.
O quarto capítulo - Cidadãos ativos: a revolta da vacina –
Representa a visão trazida por Carvalho no capitulo anterior que aponta a
cidadania como não apenas reflexo do posicionamento oficial de participação.
Trazendo as manifestações populares como foco desse debate. Especialmente
descrevendo o fenômeno da Revolta da Vacina e seus desdobramentos.
No quinto e último capítulo da obra – Bestializados ou
bilontras? – Sintetiza sua tese inicial acerca dessa forma de entender
o que
aparentemente faziam do povo brasileiro “apático e alienado”. Ressinificando
esse conceito seria, na verdade, atribuindo sabedoria e astúcia desse povo que sabia que o formal não era sério, “sabia que a
República não era pra valer”(p.160). Nesse sentido, o bestializado
era quem levasse a política a sério,aquele que aceitasse as manobras de
manipulação do poder. Em contraponto, quem apenas assistia – como fazia o povo
do Rio de Janeiro em meio tantas transformações – não seria ‘bestializado’, mas
‘bilontra’. O esperto, o que da política colhe o que melhor lhe oferecer, omisso
da vida política por opção, este é bilontra de Carvalho, aquele que sabia que a
República era uma fantasiosa, ludibriadora e movida pelos que dela se
corrompem.
Pode-se por fim, diante dessa breve análise da obra de José Murilo de Carvalho, afirmar que diante do que foi apresentado ao longo do texto, infantilizar a República que ainda se iniciava numa cultura extremamente particular integrante de um povo que há quase quatrocentos anos sempre esteve alijado do processo político oficial e que, ao menos no plano teórico, começava a projetar essa participação política que, aos poucos, com a própria mudança de regime se construía resumindo-o a bestializados, parece-me equivocada por limitar as significações históricas dos movimentos populares delineados ao logo da história política do país. Trazendo a discussão sobre a cidadania, no sentido compreendido pela visão de que cidadão é aquele indivíduo politicamente consciente, é importante avaliar como essa característica se apresenta na cultura brasileira do inicio da república apresentada por Carvalho, e verificar as permanências e ressignificações desta compreensão até os dias atuais que insiste em estereotipar o brasileiro como um povo apolítico é bastante perigosa. É importante que nos perguntemos constantemente, como o refrão do Moraes Moreira quem é besta, tu?
Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi
Os Bestializados. José Murilo de Carvalho.
Por: Suzane
Araújo.
No
prefácio, José Murilo relata a frase de indignação por Aristides Lobo, pois
segundo este, o povo assistiu bestializado a implantação da republica e
comparou-a com uma movimento de parada militar; e a de Louis Couty que devido a
sua experiência com a realidade francesa, concluiu que a população brasileira
não era tão participante politicamente como o seu país. O autor traz
inicialmente estes dois exemplos de colocações para à partir dessa ideia
central ele possa desmembrar toda uma discussão que abrange tal pensamento. O
autor, ainda no prefácio, justifica que escolheu como objeto de analise o Rio
de Janeiro devido ao fato de que esta era a maior cidade em nível populacional
durante os anos iniciais da Republica, da sua importância política, econômica e
administrava enquanto capital e vizinha de uma grande zona cafeeira, e, da
projeção dos acontecimentos no RJ que ganhavam dimensões em todo o país.
Ao sair
do prefácio e adentrar no primeiro capitulo da obra de José Murilo, este
apresenta que o fim da escravidão, a vinda de imigrantes, o êxodo rural, e o
desequilíbrio entre o número de homens em relação ao de mulheres, foram as
principais mudanças do aumento demográfico, e que consequentemente, este quadro
acentuou a falta de trabalhos mau remunerados e a péssima qualidade da
habitação e da higiene vividas pelos fluminenses. A crise econômica
desencadeada sobretudo, pela liberação de dinheiro que se fez necessária com o
fim da abolição, trouxe o aumento da
especulação do capital, a crise do preço do café, recessão econômica, elevação
do imposto sobre os importados, carestias de produtos, aumento do custo de vida
e da oferta de trabalho.
Além
dessas mudanças econômicas e demográficas, a população no começo da Republica
estava ansiosa em relação a esse novo regime, pois, achavam que teriam mais
participação política em relação à política anterior. Somasse a este quadro
descrito acima, grande agitação social entre os militares que se acharam no
direito de intervir aonde lhes desejassem; operários realizavam greves bem como
outros setores da vida econômica, descontentes com a crise geral e com a nova
Republica, jacobinos eram agitadores, ameaçavam e matavam portugueses,
opositores políticos e o governo; capoeiras e anarquistas eram presos e
deportados.
Ainda
durante este primeiro capitulo, o autor mostra que nos primeiros anos da
Republica, havia uma movimentação no mundo das ideias. Os republicanos liberais
e federalistas inspiravam-se na Revolução francesa e tinham uma postura
centralista. Já os positivistas se viam como tutores da nação durante a República.
Surgiram também propostas anarquistas e de intelectuais que buscaram ter algum
tipo de aliança com a nova Republica.
A República
também proporcionou a afloração de valores morais e costumes que antes estavam
ocultos. A sedução, o jogo, a vagabundagem estavam em evidencias e as
autoridades republicanas buscaram reprimir o “surto” de imoralidade. Algumas
formas de repressão contra pobres, negros, capoeiras, bicheiros e etc. foram
vistas de forma negativa pela população o que gerou um sentimento de raiva em
relação à Republica, e um saudosismo dos tempos da monarquia. Com base nesse quadro de
acontecimento geral, percebe-se que a Republica tinha grandes desafios à
superar em sua fase inicial.
Já que
alguns setores da camada social se encontravam frustrados com a falsa promessa
de uma Republica participativa, houve a tentativa de participação política,
porém, estas formas eliminadas como foi o caso dos jacobinos e de socialistas
que encontravam dificuldades de participar do processo eleitoral. A
participação popular passou a ser feita de modo extra-oficial, somente desta
maneira a população encontrou voz. Não havia o sentimento de pertencimento à
uma política coletiva, o único valor em comum a todas as populações, era a
religião.
No
segundo capítulo, o autor ao tratar sobre Republicas
e Cidadanias, traz a distinção política que se formou durante a República,
entre os cidadãos ativos, que eram aqueles que tinham direitos políticos e
civis; e os inativos que só possuíam os direitos civis. O autor ressalta que
desde os tempos do Império o voto não era ampliado para todos os setores
sociais. A República liberal se tornava cada vez mais discriminatória e
antidemocrática, pois proibia greves, coligações entre os operários, ela não
estendeu os direitos civis e políticos para todos e colocou o poder nas mãos
dos proprietários rurais e urbanos.
O autor
traz a concepção de cidadania do radical Silva Jardim, no qual, acreditava que
o povo era uma classe homogênea e que ela defenderia um só interesse. Além
disso, ele acreditava em uma ditadura republicana que deveria representar um
único interesse. Ao falar ainda sobre cidadania, muito antes da República, os
militares buscavam um reconhecimento melhor dentro da sociedade em que viviam.
Durante a República, eles tentaram se aproximar dos direitos civis e
reivindicavam direitos políticos e uma maior participação na política. Segundo
o autor, eles desejavam participar do Estado, ter direito à estadania.
Já os
soldados juntamente com os operários defendiam o direito ao voto e de serem
representados diante à nação. Particularmente os primeiros, desejavam trabalhar
na administração pública. Já a classe operaria idealizou que no novo regime ela
teria maior participação política. Ela tentou durante a República, se organizar
politicamente através de partidos, mas, em varias ocasiões foi abafada. Com
base nos casos dos militares, dos soldados e dos operários, percebe-se que cada
um deles buscava os seus direitos políticos e civis de acordo com seus interesses
e que não necessariamente, eles desejavam a ampliação desses direitos para toda
população que era inativa.
O autor
ao aborda sobre o conceito de cidadania para os republicanos, afirma que eles
se baseavam em Comte e que os cidadãos deveriam ter apenas o direito civil e
social, sem participação política e teriam que esperar pela ação do governo,
além de não reivindicar direitos civis e sociais.
O
socialismo se encontrava divido no Brasil, havia partidos operários de
socialistas que buscavam um representante, ou buscavam o apoio do governo. Os
anarquistas começaram a ganhar campo em jornais, revistas, federações e
congressos. Eles não aceitavam o sistema político. Porém, dentro do anarquismo
brasileiro existia aqueles que são de vertente comunista e que pregavam o fim
da propriedade privada e do Estado, a Revolução Social e o sindicalismo como
arma de luta; já os anarquistas individualistas assumiam as mesmas bandeira dos
anarquistas comunistas exceto no que diz respeito à manutenção da propriedade
privada e a rejeição de qualquer tipo de autoridade que provenha do Estado, de
partidos e de eleições.
O autor
mostra que durante a Republica houve vários conceitos de cidadania e de Pátria.
De uma forma sistematizada e se baseando em sociólogos clássicos, o autor
mostra que pátria esta ligada à família, a cooperação, à comunidade e ao
sentimento. Já a cidadania seria um contrato racional, individualista e em
defesa dos interesses. Os positivistas afirmavam que a pátria e a cidade eram
sinônimas de convivência coletiva, afetiva e que elas se baseavam em uma
relação de deveres entre os seus membros. É interessante ressaltar que em
oposição à prática da cidadania, o autor trabalha que a estadania seria aqueles
indivíduos que estavam fora dos parâmetros civis, sociais, econômicos e/ou
políticos do Estado, mas que desejavam participar de alguma forma na máquina
estatal, como por exemplo, os militares e os capoeiras.
Os
anarquistas negavam a ideia de pátria como um sendo a relação de um individuo
que pertence a um determinado lugar. Eles acreditam em um conceito de pátria ligado
a um indivíduo que pertencia ao universal. Os anarquistas criticam a pátria
pregada pelos liberais, pois acreditavam que ela usada em prol do interesse da
classe capitalista dominante.
Já no
capitulo que se refere aos Cidadãos
Inativos: A Abstenção Eleitoral, o
autor aborda sobre quem eram as pessoas que criavam as propostas de cidadania,
quais eram as suas participações políticas e atuações enquanto cidadão. Ele
traz também o relato de estrangeiros que falavam da não participação do povo na
vida brasileira. Dentre essas afirmações esses estrangeiros viram que o povo
não participava dos negócios públicos, e que até mesmo as classes dominantes da
economia e da política não atuavam de forma efetiva na cidadania. Ainda segundo
estes relatos, acreditavam que a política era para ser dirigida pela classe
dominante e que no caso do Brasil, os militares poderiam dar qualquer rumo
político que o povo facilmente aceitaria.
Porém o
autor ira afirmar que tal pensamento é exagerado e que não corresponderia
totalmente à realidade, pois desde o Primeiro Reinado e no Período Regencial
que é verificável intensa participação política por parte do povo. Até mesmo na
Republica é visível mobilizações, greves, revoltas e etc. que marcam o
sentimento de não apatia. Esse tipo de povo que participava dessas “agitações”
em sua maioria não eram cidadãos político. Talvez esse pormenor tenha passado por
despercebido dentre os estrangeiros.
Em um
subtema desde capitulo que se chama O
Povo dos Censos, o autor trabalha com os censos de 1890 e de 1906 para
mostra quem era a população do Rio de Janeiro daquele período e em que ocupação
se debruçava. O autor mostra que do alto da pirâmide social estavam os
banqueiros, os capitalistas e os proprietários; na camada intermediaria estavam
os profissionais liberais, comerciantes, funcionários públicos e as múltiplas
categorias de operários; e que na base havia os jornaleiros, trabalhadores
domésticos e pessoas sem profissão reconhecida.
O autor
irá se debruçar neste tópico para falar sobre os estrangeiros. Ele afirma que
estes eram em grande número durante a República e que se sobressaia aqui, o
português. Os imigrantes estavam presentes desde camadas sociais mais elevadas
como também nas desfavoráveis. Havia particularmente, um ódio exacerbado pelos
portugueses, justificado pelo seu controle no comércio, nas moradias de aluguel
e pela sua preferência nas vagas de emprego.
A lei
de naturalização dava ao estrangeiro o direito de votar. Porém, o governo
passou a “subornar” os imigrantes com cargos públicos para que eles se
naturalizassem. Com isso, o governo desejava de fato forçar o imigrante a adentrar
nas forças armadas brasileiras. Essa ação do governo era muito criticada pelos
embaixadores, como afirma o autor. Se tratando do outro subtema do terceiro capitulo
que trata sobre O Povo Político, são apresentados vários
problemas que dificultavam a atuação política da população: grande número de
estrangeiros, parcelas da população não conheciam as forças que direcionavam a
sociedade e a política, as greves realizadas pelos portugueses não eram
contínuas e o grande número de analfabetos.
O autor
apresenta que oitenta por cento da população era cidadã inativa, e que o povo
restante possuidor do direito de exercer a cidadania política, por vezes, não o
fazia. Com base nisso, ele conclui que não havia cidadão político no Rio de
Janeiro. A população votante provinha, sobretudo da classe do funcionalismo, que
por vezes era pressionado pelo Estado fazer o fazer. Além do mais muitos
políticos para garantirem seus votos, contratavam bandidos, capoeiras e etc.
para intimidar e agredir os que negassem seu voto a determinado candidato.
Percebe-se
com isso que mais uma vez a Republica que foi instalada nada tinha de
democrática, e que em certos momentos puniu e repreendeu de forma ditatorial. A
única forma que os não votantes encontraram para expressarem a sua insatisfação
era por meio de greves, motins e quebra-quebras. Já os votantes, eram cidadãos
plenos, mas não exerciam o direito político frente à insegurança.
Ao falar
sobre a Revolta da Vacina o autor primeiramente contextualiza este episódio no
governo de Rodrigues Alves e explana as diversas reformas sanitárias e públicas
realizadas no Rio de Janeiro. Algumas pessoas não se mostravam simpáticas às
medidas sanitaristas que exigiam a interdição ou a demolição de seus imóveis. Antes
mesmo de a Revolta emergir, houve grande oposição de políticos frente à
proibição da obrigatoriedade da vacina, o que trouxe à tona pensamentos de deposição
ao governo. Vale ressaltar que a imprensa estava dividida à cerca da aceitação
ou não da vacina e que outras disputas estavam ocorrendo paralelamente à
Revolta, como a mobilização dos militares contra o governo.
O que
deve ser tratado como relevante sobre essa Revolta é o fato de que vários
setores da sociedade discordavam a cerca da “intromissão” do governo ao obrigar
o indivíduo a abrir sua porta, ser tocado por um estranho e ser vacinado. Isso
mostrava que o povo tinha uma vaga noção de até onde o Estado poderia ir em
relação ao que é privado. A moral estava em jogo, ela foi o “cimento” que
unificou grande parte da sociedade.
A
Revolta também nos permite enxergar que as massas anteriormente reprimidas pelo
Estado, já tinham antes da Revolta, concentrado forças de antipatia contra o
regime republicano. Ainda sobe essa
Revolta, o autor desmente por meio de fontes da época que o motivo real daquela
teria sido pelos descontentamentos dos fatores econômicos e pelas obras
publicas.
No ultimo capitulo, Bestilizados ou Bilontras? o autor irá
trazer uma discussão teórica à cerca do contraponto entre a ação comunitária
extra-oficial, da população ao fazer motins, greves, manifestações, à sua
capacidade de coletividade nos festejos profanos e religiosos; e de o mesmo
povo não poder expressar a sua
cidadania.
Para fundamentar a posição
de súdito do povo ao invés de ser cidadão, o autor apresenta estudos de Alberto
Sales e Silvio Romero baseados em Richard Morse, que afirmavam que o brasileiro
é sociável com indivíduos que lhe são mais próximos e que isso é um traço da
herança cultural ibérica de caráter cooperativa e familiar. Tal atitude acarrearia
à falta de solidariedade mais ampla e de uma consciência coletiva. Opostamente,
a cultura individualista no estilo anglo-saxônica, teria permitido à política
participativa, à iniciativa privada, à associação.
Para os
pensadores liberalistas, essa falta da iniciativa privada e do espírito
empreendedor gerou uma ânsia pelo emprego publico no Brasil. Em oposição a
estes pensadores, Annibal Falcão inspirado em Comte, acreditava que a
humanidade caminhava para a integração, e que o individualismo não levava à
democracia.
A
população brasileira se relacionava de forma comunitária, em espírito de
associação, como exemplo disso tinha-se as irmandades, os núcleos operários, as
festas profanas e religiosas. Aliando-se a esse pensamento sociológico descrito
acima, e tomando como base o pensamento weberiano o autor conclui que o Rio de
Janeiro devido as suas heranças colônias, escravistas, administrativas e
político-econômicas teriam se gerado posteriormente, a burocracia e a dominação
do Estado sobre a cidade, o que impediu a autonomia desta ultima.
Mesmo
com a vinda do Abolicionismo, da Republica e consequentemente do liberalismo
individualista, a cultura brasileira ainda estava arraigada no comunitarismo. É
por isso que havia no seio da população forças antagônicas. Com base nesta
explicação pode-se entender porque a população ao mesmo tempo em que estava
integrada nos festejos religiosos, nas festividades e nas assistências mútuas;
também apresentava indiferença pela participação política, não possuíam o
conhecimento de que eram cidadãos compostos de deveres, e dos limites e funções
do Estado. A população da cidade advinda das diversas classes e etnias passou a
interagir entre si nas mais variadas formas culturais. Mas, em nível de política,
a cidade não se apresentava de forma cooperativa.
O autor
ao apresentar a figura do bilontra, afirma que a trapaça e a malandragem faziam
parte do comportamento do fluminense, e estavam presentes nas relações entre
indivíduos e instituições. O bilontra é aquele espertalhão que conhece a
realidade, sabe que ela não vai mudar e por isso ele age não a levando a sério.
Ao longo da história fluminense, o Estado e os seus representantes passaram a
se relacionar de uma ordem diferente da vigente.
As
pessoas que se deixavam levar pela aparência da realidade, eram ingênuas e não
percebiam o real. Como o governo não era levado a sério, por vezes tinha que
recorrer aos meios de repressão. O povo sabia que o que se apresentava como o
real, o formal, não era para ser levado a sério. A população sabia que a
Republica não instigava a sua participação política, e ao seu exercício da
cidadania, por isso ela não podia ser levada a serio. Bestializado era aquele
que pensava que ela era pra valer.
Penso
que a obra de José Murilo contempla um período histórico riquíssimo de modo que
sua obra possui um caráter singular na forma com que ele aborda a questões da
cidadania, da pátria, das articulações dos grupos sociais, da forma desses
pensarem e atuarem (ou não) na política, das concepções de Republica; sem
esquecer claro, das valiosas fontes( relatos, jornais, revistas e etc.) com que
o autor trabalha para desenvolver e mostrar nuances que até então, não tinham
sido explicitas.
CARVALHO, José Murilo. Os bestializados: o Rio Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
Thiago Silva Paz
No seu livro “Os
bestializados: o Rio Janeiro e a República que não foi.”, o historiador José Murilo de Carvalho
discute como, a partir dos primeiros anos após a Proclamação da República,
diversas mudanças sociais, assim como políticas, econômicas e culturais
ocorreram no Rio de Janeiro e suas consequências.
Com a República, se
multiplicaram as promessas de maior participação política, e com isso, um
aumento no número das manifestações. Os militares do período inicial da
República experienciaram do poder que lhes havia escapado desde o período
regencial e tinham a percepção de que seu papel era messiânico, no sentido de
que a eles caberia a salvação da pátria, e que por tal característica poderiam
agir em quaisquer instâncias que desejassem; enquanto isso, a classe operária
se iludia com as promessas feitas pelos representantes do novo governo e
buscavam então formar partidos que os representassem. Outros grupos, como os
capoeiras, tiveram sua situação comprimida, enquanto os anarquistas, por
exemplo, acabaram que vinham de outros países acabaram sendo enviados
compulsoriamente de volta aos seus países de origem.
No campo das ideias, houve uma
abertura ao novo, num movimento onde “Misturavam-se, sem muita preocupação
lógica ou substantiva, várias vertentes do pensamento europeu”, e esse
movimento foi acompanhado também pela Intelligentsia no que diz respeito às
reflexões sobre política. Uma nova postura moral também foi admitida, no
sentido da promoção do ideal de liberdade, que foi assimilado pelas pessoas, e
mesmo o desejo de enriquecer de maneira honesta e rapidamente ganha uma
valorização maior. Acontece o que José Murilo de Carvalho classifica como a
“vitória do espírito do capitalismo desacompanhado da ética protestante”. Mesmo
as práticas cotidianas sofreram alterações significativas, ligadas
principalmente a ideia de liberdade, e comportamentos antes vistos de maneira
questionável ganharam nova significação com a República, foi a passagem da
clandestinidade à legitimação de certos comportamentos.
O posicionamento do
proletariado com relação à Monarquia, ao contrário do pensamento que buscava se
instaurar, e que via na República um horizonte político mais favorável que o
promovido pela Monarquia, era de plena simpatia, decorrente da abolição. Dessa
maneira, os republicanos buscavam blindar pobres e negros, fazendo uso de
práticas coercitivas como a perseguição, como no caso dos bicheiros e dos
capoeiras. Como consequências dessas transformações, pode-se situar o problema
central na necessidade de conseguir um outro pacto de poder que garantisse
alguma estabilidade. Nesse cenário, as ideologias, antes concentradas em
círculos restritos, como o liberalismo e o positivismo já presentes antes da
proclamação, se multiplicam e se espalham: o socialismo, através dos jornais, e
o anarquismo, que ganha bastantes adeptos entre a classe operária brasileira, e
também entre os estrangeiros.
O ímpeto que tomou os
intelectuais, ávidos por passarem da teoria à práxis política, esbarrou nas
dificuldades enfrentadas pelo Rio de Janeiro ao ter de lidar com uma nova forma
de vida, caracterizada pela impessoalidade, pelo livre comércio normatizado
burguês, típicos das cidades europeias, mas que contrastava com a tradição
provinciana ali vigente; era um conflito que se colocava, mesmo do ponto de
vista ético, entre duas formas distintas e não raro conflitantes, e que
derivava da parca organização social do Brasil, que oscilava entre garantir
direitos sociais, e ainda que de maneira limitada, enquanto inviabilizava
direitos políticos elementares, como o direito de voto que garantiria a
possibilidade de o povo eleger seus representantes.
Poucos anos antes da abolição
se concretizar uma reforma eleitoral derrubara a restrição ao voto de acordo
com as posses financeiras, mesmo que sob a condição da necessidade de
alfabetização, e os militares, tendo sido excluídos de seus direitos políticos,
e diante de um governo corrupto, organizaram-se e conseguiram derrubar o
Império; a figura de Silva Jardim foi fundamental para legitimar o novo
governo, uma vez que este tratou de reunir o povo, e mesmo que posteriormente
seus méritos não tenham sido reconhecidos e ele tenha sido afastado pelo novo
governo que se instalou.
Um problema imediato após a
Proclamação da República foi a ausência de um projeto social concreto, o que
fez com que este trabalho de articulação acabasse por ser atribuído aos
funcionários do antigo governo, que agiam dentro do novo governo com os mesmos
princípios do antigo, ou seja, com preceitos liberais.
A caracterização do povo
como bestializado, inerte, diante do novo panorama político que se formou com a
República foi alimentada por práticas como as estabelecidas pela Constituição
de 1891, que não tornava obrigado ao Estado dar educação ao povo, o que fez com
que ex-escravos e estrangeiros, por exemplo, permanecessem fora da comunidade
política, e esse quadro ilustra algumas razões pelas quais as classes populares
preferiam ainda a Monarquia à República.
O governo republicano,
objetivando sua estabilidade e tranquilidade para negociações com o exterior e
implementação do novo pacto de poder, procurou tirar os militares do jogo e
reduzir o nível de participação popular, além de trazer para seu lado as
oligarquias, o que lhes garantiria maior solidez política, enquanto colocava o
povo numa situação de inação política, que por conseguinte o separava ainda
mais dos seus ditos representantes, sob a justificativa de que este dificultava
a implementação da República, e tais práticas culminariam na instalação de
vícios políticos como relações baseadas em desejos pessoais que evoluíam para
práticas corruptas que acabavam por aumentar ainda mais o fosso político existente
entre os republicanos e o povo.
Os primeiros anos da República
foram marcados por grandes tensões que tomavam conta da capital, com riscos de
fragmentação política e com a crise do café, que ameaçava a economia e elevava
a dívida externa. Para conter essa instabilidade era preciso reduzir a
participação da capital, o que significaria primeiro, a retirada dos militares
do governo e, depois, a redução do nível de participação popular. Campos
Salles, e sua política de estados, conseguiu diminuir a participação da
capital, com medidas como a dissolução da Câmara de Vereadores, o Código de
Posturas e o autoritarismo ilustrado de Oswaldo Cruz e Pereira Passos, ao
torná-la indesejada e pouco atrativa; governo municipal e representação dos
cidadãos eram distantes e as atividades do povo permaneciam politicamente inexpressivas.
Foi criado pela República um novo Rio, domesticado e que buscava inspiração em
Paris, que adentrava a chamada “belle époque” com recursos disponíveis para as
reformas urbanas, graças às medidas econômicas de Campos Salles.
Mas se esse novo Rio,
inspirado por demais nos moldes europeus e, logo, insatisfatório à sua própria
realidade, só aumentava a divisão social; as obras incomodaram a população, culminando
na Revolta da Vacina, em 1904, e que contou com a participação de militares e
populares. Mas uma vez que os militares foram contidos, a revolta se mostrou
multifacetada, no sentido de que havia participação, não apenas do operariado,
como também das camadas populares que atuavam em contextos distintos. Segundo
José Murilo, apesar de discordâncias historiográficas sobre as razões para a
revolta, esta teria ocorrido essencialmente devido à obrigatoriedade da vacina
expressa em lei, já que antes as pessoas estavam se vacinando em número cada
vez maior. "A República se aplicara em importar a parafernália
institucional norte-americana. Havia uma constituição que garantia os direitos
civis e políticos dos cidadãos, havia eleições, havia um parlamento, havia
tentativas de formar partidos políticos. A mesa estava posta por que não
apareciam os convivas? Onde estavam eles?” A essa pergunta, José Murilo de
Carvalho apresenta como resposta a constatação de que o problema residia no
fato de termos importado um regime político estrangeiro que não considerava em
sua hierarquia a participação popular, mostrando-se insatisfatório na medida em
que cabia ao Estado decidir quem poderia ou não ser considerado cidadão. E o
quadro se revelava ainda mais preocupante quando se percebia que, somados todos
os excluídos politicamente, inclusos militares, analfabetos, mulheres entre
outros grupos, mais de oitenta por cento da população perderia sua cidadania.
Essa situação gerava, por parte dos que podiam votar, um desinteresse e um
afastamento da práxis política. "Os representantes do povo não
representavam ninguém, os representados não existiam, o ato de votar era uma
operação de capangagem", o que resultou na ausência de partidos políticos
legítimos.
Mas ao contrário do que se
pode pensar, havia participação política, e ela se dava quando o povo optava
por expressar seus descontentamentos com greves, promovendo quebra-quebra e
outras formas de manifestação que causavam tumulto na cidade, numa forma de
comportamento que não se adequava aos moldes desejados pelos reformadores da
elite. Esses moldes diziam respeito à ideia comum da figura do cidadão ativo,
consciente de seus direitos e deveres, capaz de organizar-se para agir em
defesa de seus interesses, pelo reformismo parlamentar ou pelo radicalismo da
ação econômica.
Nesse sentido, a Revolta da
Vacina não apresentava lideranças ou mesmo planejamento, pois coube aos
diversos pequenos grupos que se manifestavam por seus interesses, a condução
dos acontecidos, que mesmo não diretamente relacionados, representavam interesses
comuns entre os grupos. A revolta não ambicionava derrubar o governo
republicano, mas representava a insatisfação daqueles que se sentiram frustrados
em seu desejo por participação política e cidadania; a revolta deveria mostrar
ao Estado que o povo delimitava a autoridade do governo, atitude diante da qual
os republicanos reagiam com extremada violência. "Estava sendo violado um
direito que o sistema republicano deveria, por sua própria essência resguardar.
Ao não fazê-lo, ao violá-lo abertamente, o governo colocava-se contra seus
próprios princípios, colocava-se na ilegitimidade e ilegalidade, tornando então
justificável e justificado o recurso à força."
Uma vez distanciado da
política, o povo se organizava nos domínios da cultura, e foi através de
manifestações populares que o povo se manifestava. A política havia se mostrado
como uma mera abstração burocrática, não existia para ser respeitada, e a
figura do bestializado é, nesse contexto, representada pelo indivíduo que,
mesmo não representado, ou impedido de participar dessa forma política, ainda a
levava em consideração. O Estado não agia em prol da sociedade, e a única forma
de sobreviver a essa situação era aceitando-a desinteressadamente e expondo
suas incongruências ocasionalmente. O indivíduo que assim conseguisse agir era
denominado bilontra.
Enquanto o bestializado é o
indivíduo que aceita ser a massa de manobra, o cliente do coronel, o bilontra é
o indivíduo que percebe que a República “não é para valer”. Ele, sabendo disto,
não entra no jogo; supostamente o mais politizado, ele não participa do
processo, pois sabe que essa forma de política não é realizável. Para José
Murilo, o brasileiro é, historicamente, desinteressado por política. Por vezes
ele reproduz a memória propagada pelo Estado Novo de que a República Velha era
caótica e o Liberalismo tão incapaz que seria mais conveniente uma república
autoritária, posição que parece um tanto exagerada quando se volta o olhar ao
proveito tirado pelas elites da República Velha, por exemplo. A percepção que
fica é que, apesar da qualidade inegável de seu trabalho, José Murilo peca por
fazer algumas generalizações e suposições pouco rigorosas a respeito da
extensão do que ocorria no Rio de Janeiro, além de colocar o povo numa posição
demasiado apática.
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