domingo, 21 de outubro de 2012

Formação das Almas: o imaginário da República no Brasil - José Murilo de Carvalho

Por Cintia Marques.

Um Herói para o Novo Regime



Ao refletir sobre a construção da República brasileira vêm à tona as concepções de Roberto Matta e Honório Rodrigues. Ambos se referem ao tema conciliação como marcante na cultura brasileira. Roberto trata dessa questão afirmando que o brasileiro tem aversão a conflitos e definições rígidas, optando pela integração e conciliação; já Honório afirma que a conciliação é uma estratégia que a elite encontrou para manipular as massas visando atender a seus anseios políticos, convencendo o povo de que ele é pacífico e ordeiro e gerando certo conformismo.
Essa discussão se enquadra perfeitamente na maneira em que foi implantada a república no Brasil, a liderança política do velho e novo sistema se uniu de forma conciliatória, sem choques ou rupturas bruscas. O exército foi quem garantiu a implantação do governo republicano nessas linhas, trazendo certa estabilidade. O povo, que deveria ser protagonista desse processo, foi espectador, para que fosse garantido o projeto de implantação de um novo regime como continuidade de práticas antigas, uma conciliação, sem recorrer a rupturas.
Em sua obra Formação das Almas, José Murilo de Carvalho tece todo o imaginário da República, nela podemos ver que a participação do povo na implantação da republica foi ínfima, principalmente se comparada com os Estados Unidos, país no qual a atuação do povo foi demasiado importante.
O que me chamou mais atenção nesta marcante obra é a forma mítica da origem da República e a dificuldade de se construir um herói para esse novo regime que acabara de ser implantado. A procura fora intensa, passando por grandes nomes tais como: o Marechal Deodoro da Fonseca, Benjamin Constant e Floriano Peixoto. Porém a nação encontrou esse herói na figura humanizada e cristã de Tiradentes.
Este herói surge de modo forçado, forjado com o âmago de  causar a admiração de um povo que assistiu ao surgimento da república, foram dormir com a monarquia e acordaram diante de um novo regime. A busca de um herói para a República acabou tendo êxito onde não imaginava muitos dos participantes da proclamação. Diante das dificuldades em promover um protagonista do dia 15, quem aos poucos foi capaz de atender as exigências da mitificação fora justamente Tiradentes, pois o mesmo se enquadrava perfeitamente nessa tentativa de convencer o povo da conciliação.  Para Carvalho, o êxito de Tiradentes estava na sua identificação com Cristo, passando pelos mesmos sacrifícios, tocando o sentimento popular. Portanto, os republicanos tomam a dianteira da apropriação de sua memória, uma vez que, segundo Carvalho: “a elaboração de um imaginário é parte da legitimação de qualquer regime político”.


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