Livro analisado: COTRIM, Gilberto.
História & consciência do Brasil, 2: da independência aos dias atuais: 1º
grau / Gilberto Cotrim. – 9. ed. – São Paulo: Saraiva, 1996.
Equipe: Anderson
Holanda; Isabela Dias; Monike Moura; Jéssika Adrielly; Suzane Araújo.
Conteúdo abordado
O
autor dedica três capítulos do seu livro ao período da Primeira República. No capítulo
9 – intitulado Instalação e Consolidação
da República – o primeiro assunto destacado foi o governo provisório da
República, suas ‘intenções’ e ‘primeiras medidas’, assim como a forte
influência do positivismo de Comte. Ainda neste tópico foi lembrado o problema da
crise financeira, desencadeada pela reforma – conhecida como ‘encilhamento’ –
executada por Rui Barbosa (então ministro da Fazenda) que visava o
desenvolvimento industrial do país (grande emissão de dinheiro: inflação,
empresas fantasmas, alta especulação, desorganização financeira e insatisfação
dos cafeicultores). Também ‘a primeira Constituição da República’ (que teria
sido bastante influenciada pela dos EUA) mereceu destaque do autor para os
pontos considerados fundamentais: a ‘forma de governo’ (republicana); a ‘forma
de Estado’ (federalista); o ‘sistema de governo’ (presidencialista); os ‘poderes
do Estado’ (executivo, legislativo, judiciário); a questão do ‘voto’ (e suas limitações).
O capítulo se encerrará tratando precisamente do governo de Deodoro da Fonseca (1891) – destacando aspectos como o
encaminhamento das eleições, o fechamento do congresso, a organização da
oposição, a primeira revolta da Armada e, por fim, a renúncia – e do governo de Floriano Peixoto (1891-1894)
– destacando suas primeiras medidas, o firme combate à oposição que lhe
renderia a alcunha de “Marechal de Ferro”, a segunda revolta da Armada e,
finalizando, a ‘Revolução Federalista’ iniciada em 1893.
No
capítulo 10 – intitulado A República dos
Fazendeiros – o autor inicia dividindo a chamada ‘República Velha’ em duas
fases: A ‘República da Espada’ (1889-1894) – como o período dos governos
militares de Deodoro e Floriano – e a ‘República dos Fazendeiros’ (1894-1930) –
como período do governo civil. Destacando ‘a força do coronelismo’, são
mencionadas questões como a política de favores, o voto de cabresto, as fraudes
e disputas eleitorais, e ainda uma relação do coronelismo com a atualidade.
Outro aspecto mencionado é ‘A política dos governadores’, que o autor destaca
como sendo a reprodução, no plano federal, da rede de compromissos que ligava
os coronéis e os governadores dentro dos estados. Aqui, como não poderia
faltar, será destacada a conhecida ‘política do café com leite’. A crise enfrentada pela economia cafeeira em
razão da superprodução (oferta maior que procura: queda brusca dos preços e
acúmulo de estoques) é lembrada no tópico ‘o café e a liderança das
exportações’, assim como a reunião dos cafeicultores visando solucioná-la
(‘Convênio de Taubaté’). O capítulo finaliza-se com o tópico ‘A indústria e o
movimento operário’, no qual são destacadas questões como a industrialização de
São Paulo, o crescimento industrial do país, a importância que vai ganhando o
setor urbano. Esses seriam os principais fatores que dariam maior relevo às
‘lutas operárias’, questão para qual o autor dedica boa parte do capítulo,
finalizando com a greve de 1917.
O
capítulo 11 irá tratar das Revoltas na
República Velha. Destacando inicialmente a questão do messianismo, o autor
aponta duas revoltas que teriam sido por ele influenciados: a revolta de
Canudos e a guerra do Contestado. Após discorrer sobre elas, o autor traz ainda
a Revolta da Vacina e a Revolta da Chibata. Por fim, ao tratar da temática do ‘Tenentismo’,
o autor destaca aspectos como: as principais propostas do movimento tenentista;
as revoltas do Forte de Copacabana, assim como a de 1924; e por último a Coluna
Prestes.
Como o autor aborda
O primeiro aspecto
a chamar atenção são as citações na abertura de cada capítulo: a partir delas o
autor instiga o aluno, além de dá indicativos dos seus referenciais e da sua concepção
sobre o período. Na abertura de cada capítulo, Cotrim escreve, como uma pequena
introdução, uma visão daquilo que irá discorrer no capítulo, deixando explícita
nessas passagens a idéia que tem daquele momento histórico. Dividindo em
tópicos e subtópicos, de maneira a facilitar o entendimento e até mesmo a
memorização, o autor seleciona os aspectos que considera relevantes em um
determinado recorte temporal. Outro recurso didático é o uso de palavras-chave,
que são destacadas em negrito e colocadas na forma de tópicos (ex.: principais
medidas do governo provisório, pontos fundamentais da primeira Constituição
republicana, etc.).
São distribuídos pelos
capítulos alguns quadros informativos, alguns explicativos de determinados
termos, outros como recurso para chamar a atenção do aluno para algum aspecto
importante. As imagens usadas são bastante antiquadas, a citar a de Deodoro da
Fonseca proclamando a República, da bandeira do Brasil, de uma plantação de
café, etc. Um aspecto interessante é o quadro que é colocado em cada capítulo intitulado
“leitura e reflexão”, onde o autor estimula o aluno a pensar sobre este ou aquele
aspecto. Por um lado estimula a reflexão, mas por outro a delimita, além de se
mostrar bastante tendencioso a um conservadorismo monarquista. Mas o que mais
chamou atenção do grupo foi o poder de síntese e o estruturalismo do autor. Se
seus capítulos já são bastante sintéticos, ainda não satisfeito, ao final de
cada um o autor resume-os a um quadro intitulado “sinopse histórica”, com os
principais temas abordados e algumas frases sobre cada um. Para finalizar a
estrutura do capítulo o autor levanta algumas questões no quadro intitulado “revisão
pontos-chaves”. Um aluno “esperto” (no sentido da malícia) faria uma boa prova
estudando apenas por esse “esquema”, já que essa estrutura aponta para uma
história decoreba, ao modo antigo.
Percebe-se que o livro
tem uma abordagem bastante tradicionalista, chegando ao cúmulo de apresentar
uma lista com o nome de todos os presidentes da chamada República Velha, seu “período
de governo” e “procedência política”. Seguindo um raciocínio cronológico e
informativo dos acontecimentos, são apontados fatos e características dos períodos,
contribuindo para o congelamento das idéias. Mesmo focando na questão social
(sobretudo nos capítulos 10 e 11), sua abordagem não problematiza a questão da
cidadania, não suscita uma reflexão mais profunda, se contenta com a superfície
dos fatos e apresentação de personagens e pontos-chaves, não traz referências bibliográficas,
nem filmografia, nem diálogo com outros historiadores (apesar de ficarem explícitas
a quem analisa seu livro algumas de suas influências).
A Compreensão do autor acerca da Primeira República
O autor tentar
quebrar com algumas idéias, como a da apatia popular (sobretudo no capítulo 11)
– o povo brasileiro não seria tão pacífico, cordial, tese que busca confirmar
apresentando os desdobramentos de algumas revoltas. Mas ainda apresenta uma
visão completamente maniqueísta da História, sempre vitimando o povo e culpando
as classes dominantes pelo atraso, corrupção, e bagunça política do período. Percebe-se
como o autor corrobora com a idéia da República Velha como um período de
bagunça política e econômica, uma escrita ainda muito influenciada pela idéia lançada
pelo Estado Novo. Mesmo o povo esbanjando algumas revoltas, essas eram soltas e
desarticuladas. Apresenta a instalação da república como “golpe republicano” e
ao final do primeiro capítulo lança um debate no mínimo tendencioso,
contrapondo República à Monarquia, e apresentando as vantagens da última. Uma das
críticas que fundamentam a sua concepção sobre a República é que a queda da
monarquia não contara com a participação popular. Além disso, o Brasil mudava a
forma de governo sem revolucionar a sociedade. A República oligárquica é
estigmatizada como um período de completa corrupção, mas no meio do qual surgem
as primeiras fábricas, quando o país inicia a industrialização após a crise
cafeeira, e quando surge o movimento operário, a luta pelos direitos frente a
exploração das classes dominantes.
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