sábado, 24 de março de 2012
O Símbolo: Representações do Imaginário da República Brasileira
quinta-feira, 22 de março de 2012
A transição para a república e suas correntes ideológicas, formando as almas do Brasil.
- Liberais, que Tinham o apoio dos proprietários rurais e federalistas, cuja modelo foi usado nos Estados Unidos
- Os jacobinos que defendiam a participação política direta dos cidadãos, porém possuíam poucos seguidores.
- Os positivistas ao qual defendiam um executivo forte e intervencionista, uma espécie de paternalismo governamental, era o grupo mais ativo e com boa aceitação em camadas médias urbanas e setores militares.
segunda-feira, 19 de março de 2012
Sobre a Construção da República no Brasil
Por Sandra Mendes
Alzernan Elvis*
“Heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva.”¹
Eis uma definição exata do que representa um herói a uma nação, dada por José Murilo de Carvalho, em sua obra “A Formação das Almas”. Portanto, o herói é um elemento crucial para legitimação de regimes políticos. Ele representa o elo da formação de uma identidade nacional. É através deste que pode-se haver uma coesão do sentimento de tal identidade.
Ao ler a explanação de Carvalho sobre o herói da República brasileira, Tiradentes, parece impossível não se perguntar, ao menos, quem seria o verdadeiro herói nacional, de fato? Visto que, nesse caso, se trata de uma construção muito bem idealizada ao longo de anos na História do Brasil. Logo, percebe-se que se trata de mais uma “batalha de memória” da nossa História.
A escolha de um herói, no caso brasileiro, não se deu de maneira unânime. De início, pois implantada a República vários atores desse evento concorriam para ocupar esse cargo tão prestigiado – que representaria o mito de origem da República -, tínhamos os principais participantes do 15 de novembro: Deodoro da Fonseca, Benjamin Constant e Floriano Peixoto. No tocante a elegibilidade de qualquer um destes, mostrou-se os “calcanhares de Aquiles” de todos participantes dessa corrida. Deodoro tinha muito para desempenhar o papel de herói republicano, porém, nesta última palavra está a chave para sua derrota, pois detinha um incerto republicanismo, e também “era militar demais para que pudesse ter penetração mais ampla”², nos diz Carvalho; quanto ao Benjamin tinha o republicanismo inatingível, contudo, ele não tinha figura de herói, pois não era líder popular nem líder militar; O Floriano, apesar de ter tudo para ser o herói nacional, se inclinava demais aos republicanos jacobinos, desagradando os republicanos liberais, e também, dividia os militares – contrapondo Exército e Marinha.
Assim, se tornaria uma tarefa mais difícil e penosa, guiar o país com um regime recém-estabelecido e sem herói, sem uma identidade nacional. A crise de identidade era tratada como prioritária. Lembre-se que a participação popular na instauração da República é ínfima, praticamente, não existiu. Portanto, um herói não se pronunciou naturalmente e a escolha deveria servir perfeitamente aos interesses do Estado em instituir um exemplo/modelo de cidadão a ser seguido pela nação e a mesma deveria aceitá-lo, ou mesmo, elegê-lo.
Percebo como uma espécie de trégua entre os concorrentes do cargo de herói da República, a escolha de Tiradentes como herói da nação, que não é tão simples assim, todavia, em resumo, todos os protagonistas do 15 de novembro tinham apostado suas fichas e derrotaram-se mutuamente, numa tentativa de evitar maiores desgastes em detrimento da situação que passara a República em tal momento – era urgente a necessidade de promover tal herói e os seus principais atores estavam desqualificados. Tanto que recorre-se a um período anterior a instauração da República: a Inconfidência Mineira. Tome-se como uma simplificação grosseira. Pois, é óbvio que todos insistiram até o fim em suas vertentes, como temos esse debate em aberto até hoje, porém, o “herói real” da nação – Tiradentes – “encaixou” perfeitamente no papel por diversos fatores. Mas se deu, principalmente, por via prosélita do movimento mineiro, que cultivou no imaginário dos conterrâneos a memória do martírio vivido por Tiradentes.
Talvez, o único a deter o poder real de desalojá-lo do patamar que o Tiradentes alcançou, fosse a figura do Frei Caneca, que merecia melhor análise à feita por Carvalho, apesar do mesmo ter colocado Caneca de lado categoricamente, citando o caráter geográfico do eixo político mais influente, que é o centro político do Brasil, formado por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, a partir da metade do século XIX. Pois, até a disputa de memória entre Pedro I, no ideário popular, foi vencida por Tiradentes facilmente. Todavia, seria difícil bater, o eleito, Tiradentes, devido a sua laboriosa construção idealizada, que parece bastante apelativa em vários momentos, porém, a maior associação, e talvez, principal argumento para vencer seus concorrentes, seja a imagem deste herói relacionada ao Cristo, levando a população a uma espécie de ritual cívico, que na descrição trazida à luz por José Murilo de Carvalho, nos revela um culto que beira um fanatismo religioso à causa:
“... O préstito saiu dos arredores da Cadeia Velha, em que Tiradentes estivera preso, prosseguiu até a praça Tiradentes e daí até o Itamaraty, onde Deodoro saudou os manifestantes. Acompanharam o desfile representantes dos clubes abolicionistas e republicanos, estudantes, militares, o Centro do Partido Operário – e, em destaque, os positivistas, levando em andor um busto do mártir esculpido por Almeida Reis. Presente também estava um misterioso Clube dos Filhos de Thalma. Era a celebração da paixão (Cadeia Velha), morte (praça Tiradentes) e ressureição (Itamaraty) do novo Cristo. Em celebrações posteriores, acrescentou-se ao final do desfile uma carreta para lembrar a que, em 1792, servira para transportar o corpo da “santa vítima” após o enforcamento. Era o “enterro” da nova via-sacra.”³
Não bastasse a simbologia que este já emitia em todo contexto do seu martírio, alia-se a simbologia cristã à sua figura. Parece-me exagerado. Mas é com essa imagem de Cristo que ele conquista, de fato, seu posto.
Assim, percebemos que se instituiu o herói nacional. Este não surgiu naturalmente, como um herói tradicional/autêntico. Entretanto, a ideia aqui não é a de responder ao título dessa reflexão (Quem seria o verdadeiro herói nacional?), mas estabelecer algumas relações e críticas e formular novas questões em torno do assunto que passou – e passa – distante do conhecimento do cidadão brasileiro até hoje, que, realmente, parece pouco se importar, motivado pelo simples fato de desconhecer tal discussão. Por exemplo, podemos pensar, como nos dias de hoje, a figura de um outro herói nacional poderia mudar o nossa identidade nacional, e também nosso calendário, e principalmente, a maneira de pensarmos a manifestação desse modelo heroico na construção da história do país. Em especial, podemos pensar no caso dos pernambucanos, com o cultivo da memória do herói Frei Caneca pelos mesmos, se este não fosse elevado a categoria de herói nacional, ao menos teríamos uma memória fortalecida a respeito do nosso 6 de março de 1817, que mnemonicamente nos é tão fraco, e por que não, tão desconhecido do seu próprio povo, eis que seria um resgate fortalecedor da cultura e espírito cívico do povo pernambucano.
* Graduando do curso de História na Universidade Federal de Pernambuco.
Referências bibliográficas
1. CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o imaginário da república do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990; p. 55.
2. Idem, p. 56.
3. Idem, p. 64.
domingo, 18 de março de 2012
Construindo a República: comparações entre os diferentes sistemas republicanos a partir dos valores das sociedades americana, francesa e brasileira
“A Liberdade Guiando o Povo”? Primeira Republica & participação popular
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CARONE, Edgard. A Republica Velha. São Paulo:
DIFEL, 1975.
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A Proclamação ou as Proclamações?
Por Suzane Araújo.
“ Os militares fizeram a Republica!”
Martinho Prado Júniro, in A Formação das Almas. Carvalho,José Murilo de.1990.p.52.
Comecei a discussão por esse trecho retirado da obra de José Murilo de Carvalho, pois achei curioso o fato de que, esta frase ainda continua de maneira tão forte e presente nos tempos atuais.
A República brasileira, ou melhor, "As Repúblicas" , para José Murilo, tiveram as suas origens ideológicas importadas de regiões como a França e América do Norte. À saber: o modelo de República Americana, Positivista e Jacobina, cada qual com as suas especificidades históricas e teóricas.
O Brasil, em meio aos problemas políticos, econômicos e sociais vividos no Império, “precisou” importar algum desses modelos na tentativa de resolver esses impasses. Mas, os diversos grupos sociais formados, sobretudo por: pequenos e grandes proprietários, profissionais liberais, militares, professores, estudantes e jornalistas, se identificaram com alguma dessas correntes republicanas.
Estas correntes deveriam abarcar em seu conteúdo ideológico, questões sobre a Liberdade do indivíduo, a participação ou não de civis na vida política, o desenvolvimento de políticas de inclusão, a promoção do progresso, a tentativa de formar um governo que representativo ou não e possuir um governante que agisse em prol dos interesses políticos econômicos de um determinado grupo. Só para citar alguns pontos relevantes.
Uma vez que no Brasil se tinha uma gama de grupos sociais, e que, uma parte desses estavam ligados a alguma ideologia republicana, na medida em ocorre articulação política que desemboca na Proclamação da República em novembro de 1899, estas correntes digladiam entre si para determinar qual seria o papel que cada um dos participantes teria nessa Nova Ordem.
Além disso, começa-se aí a busca para saber qual dos grupos entraria na “história oficial.”
Sabe-se, que a presença militar na instalação da República foi notável, porém, não se pode atribuir somente a este grupo a participação nesse feito. Por trás, existia outras correntes republicanas nas quais, cada um dos seus líderes desejavam implementar um tipo de República na qual acreditavam ser o ideal para a concretização dos seus interesses, e por vezes, a do coletivo.
A História tradicional tende a favorecer uma só visão dos fatos, além de valorizar os grandes feitos realizados por homens/grupos importantes. Talvez, seja por isso que nos livros didáticos e no pensamento do censo comum, ainda se tenha em mente que a República foi proclamada e idealizada exclusivamente por Deodoro, um oficial membro do Exército.
É ai que retornamos para a afirmação feita no início da discussão, na qual mostra uma visão tendenciosa e unívoca, pois revela apenas o caráter de um só grupo, e não contempla as demais vertentes republicanas. Grupos esses que também estavam engajados na instalação de um Novo Regime, cada qual com as suas ideologias e aspirações específicas.
Cadê os civis?
O passado está sendo constantemente revisto pelos historiadores, dando uma nova análise, criando novas leituras dos fatos. Essas leituras são influenciadas por todo um conjunto de fatores que o pesquisador está inserido, seja o seu tempo, seu local de origem, seja até mesmo a sua idade. Isso faz com que o passado esteja sempre em movimento, sendo desconstruído e reconstruído diversas vezes por múltiplas visões. Não seria diferente com a proclamação da República do Brasil, que já foi analisada diversas vezes ao longo desses cem anos. A análise sobre a proclamação é uma tarefa difícil a ser realizada pelos nossos contemporâneos, pois na própria época em que aconteceu, houve várias versões que foram surgindo para explicar como o Brasil havia se tornado uma nação governada por meio do republicanismo. Porém, nenhuma versão que defendia a participação ativa dos republicanos civis conseguiu se firmar e ganhar muitos defensores.
Logo após a proclamação da República, vários foram os lados que tentaram divulgar uma versão que deveria ser tida como oficial sobre os fatos que desencadearam no fim do Império e na chegada do modelo republicano de governo ao Brasil. Proclamador, consolidador, mestre, quem deveria receber cada papel de destaque, gravando seu nome na história brasileira, nos momentos cruciais da transição do sistema de governo brasileiro? Não faltaram versões para atribuir esses papéis de destaques para diferentes personagens. Deodoro da Fonseca, Benjamin Constant, Floriano Peixoto, todos esses possuíam defensores. Todas essas personagens eram militares, o que nos leva a fazer um questionamento sobre uma possível participação de algum republicano civil no surgimento da república brasileira.
Quintino Bocaiúva era o chefe do Partido Republicano Brasileiro em 1889, mas não conseguiu nenhum papel de destaque nos acontecimentos que levaram à República. Segundo José Murilo, os republicanos civis só tomaram conhecimento da conspiração quatro dias antes do dia da proclamação, e apenas para que esta não fosse vista apenas como uma ação militarista. Curiosamente, o oposto que iria acontecer no século seguinte, naquele que foi chamado por muito tempo de golpe militar, mas que hoje já percebemos que houve um grande apoio da ala civil da sociedade brasileira. Diferentemente da Revolução Francesa, um movimento que inspirava muitos republicanos da época, os civis brasileiros apenas assistiram o desenrolar dos fatos, enquanto os civis franceses conseguiram ditar os rumos da sua revolução.
Alvaro Duarte.