domingo, 18 de março de 2012

Proclamação da República: uma esperança para o povo

Por Natália Ferraz

Segundo o dicionário, República significa: organização de um Estado com vista a servir à coisa pública, ao interesse comum; Sistema de governo em que um ou vários indivíduos eleitos pelo povo exercem o poder supremo por um tempo determinado; entre outras definições. Contudo, certamente, era dessa maneira que a maioria da população brasileira estava pensando. Que além de se tornarem cidadãos políticos elegendo o governante teriam seus interesses defendidos. Mas não foi bem assim que aconteceu, pelo contrário, de fato com a extinção do Poder Moderador a concentração do poder foi retirada das mãos de um único governante, mas esse poder foi transferido para as mãos dos grandes proprietários de terras, de empresários, enfim, para as mãos da elite tanto da cidade como do campo.

Ao ser proclamada, a República brasileira, não tinha um direcionamento certo para ser tomado. Aqueles que a proclamaram estavam divididos a respeito de que “forma” de república seria aqui aplicada. Havia o grupo que defendia uma república ditatorial, outro que era a favor de uma república nos padrões norte-americanos e tinha aqueles que tinham uma inclinação por uma república jacobina. Como se vê mesmo entre os republicanos haviam uma efervescência de ideologias diferentes, característica bem marcante da época. O que se sabe é que foi imposta no Brasil uma República com a mínima participação popular, onde o povo não tinha acesso ao poder público, não possuía o direito do voto e muito menos tinha os seus direitos defendidos pelos seus “representantes”

Com a proclamação necessitava-se que houvesse uma mudança da “cultura política” brasileira. Era preciso que a população deixasse de lado os pensamentos oriundos do regime monárquico e imperial. Essa função, da mudança de mentalidade era bem complicada e se tornava ainda mais difícil pelo fato do povo não ter tido participação ativa do processo de mudança de regime político.

Rodrigo Patto coloca em seu texto, Desafios e possibilidades da apropriação de cultura política pela historiografia, que “nos casos de ausência era necessário desenvolver a cultura política, inculcá-la nos povos e sociedades ignaros”. No caso do início da República considero que a sociedade brasileira possuía a sua cultura política, mas, segundo os olhares dos republicanos essa “cultura” estava obsoleta, precisava ser modificada.

Com esse objetivo, os republicanos utilizaram vários artifícios, eles estavam à procura de um mito, um herói que representasse a República brasileira, porque como disse José Murilo de Carvalho: “heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva”.

Esse “personagem” foi encontrado na figura de Tiradentes, homem que lutou pela independência do País. Mas para torná-lo de fato um herói, um mito, modificaram a sua aparência, praticamente construíram uma nova identidade para ele e o transformaram em um Cristo cívico.

O povo ficou de fora da proclamação, reverenciou um herói “forjado” e imposto, mas ainda assim tinha esperança de usufruir da República, de ter os seus interesses defendidos e de ter uma participação ativa na vida política de seu país. Até hoje a sociedade brasileira nutri essa esperança.


CARVALHO, José Murilo. A Formação das Almas: o imaginário da república do Brasil,São Paulo, Companhia das Letras, 1990.

SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. Culturas Políticas na História: Novos Estudos. Belo Horizonte, 2009.

2 comentários: