por Alexandre Aguiar
Um dos grandes processos da história do Brasil é a proclamação da república, a forma como foi elaborada e sua construção, é de material riquíssimo para a historiografia, o que desenvolve vários debates sobre esse processo. Um em especial que chamou minha atenção foi à questão de como a república brasileira era idealizada como salvadora da nação e de como esse pensamento foi desiludindo a com o passar do tempo. José Murilo de Carvalho, em um artigo publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional, chamado de Eterno Retorno? sobre a corrupção no Brasil, diz que assim como os republicanos acusavam o sistema imperial de corrupto, os “revolucionários” de 1930 acusavam a primeira república de carcomidos (não é a toa, que foi designada a Primeira República de República Velha pelos intelectuais de 1930, com a intenção de significá-la de ultrapassada).
O que podemos tirar de conclusivo com essas duas afirmações? Que tanto o governo Imperial como o Republicano houve a permanência da corrupção, e com isso gerou um sentimento de decepção em alguns republicanos quando esse fato foi aparecendo com o passar dos tempos. Um exemplo que podemos destacar é do teórico da república Alberto Sales, irmão do presidente Campos Sales, que durante o governo do irmão “publicou um ataque virulento contra o novo regime, que considerava corrupto e mais despótico do que o governo monárquico” (CARVALHO:1990; pág. 33).
. Segundo José Murilo de Carvalho, no seu livro A Formação das Almas, no primeiro capítulo intitulado de Utopias Republicanas, ele explica um pouco porque a República tão sonhada pelos intelectuais da época frustrou a grande maioria posteriormente.
Segundo o autor, além da República ter herdado do Império vários problemas como a grande desigualdade social latente, a questão mal resolvida da escravidão, a proclamação foi realizada em uma época de bastante especulação financeira, causada Segundo Jose Murilo “pelas grandes emissões de dinheiro feitas pelo governo para atender as necessidades geradas pela abolição da escravidão” (CARVALHO:1990; pág. 29). Devido a essa especulação e essa política emissionista, o enriquecimento pessoal veio em primeiro lugar, em vez de políticas em busca do bem comum. A filosofia da República americana de definir o interesse público como a soma dos interesses individuais era conversa fiada se fosse comparada com a política da primeira República. Parafraseando o autor “simplesmente não havia preocupação com o público. Predominava a mentalidade predatória, o espírito do capitalismo sem a ética protestante” (CARVALHO: 1990; pág. 30).
Outro fator discutido pelo autor é a dificuldade de organização da sociedade brasileira em se organizar politicamente e de ter consciência coletiva, além da própria identidade nacional que era necessária segundo o autor, para o estabelecimento da República, ainda estava engatinhando em 1889, que tínhamos alguns elementos como território, língua, religião mais ainda não muito bem definida devido aos entraves da escravidão.
A República tão sonhada pelos pensadores da época não se tornou realidade, ficou somente no plano onírico. No campo da realidade ela não veio para acabar com os males do Império, o país estava carregado de problemas históricos de origem e natureza diversas e que com uma simples proclamação não seriam resolvidos. A República foi perdendo seu brilho a ponto de que seus defensores se voltaram contra ela, devido a sua decepção.
BIBLIOGRAFIA
CARVALHO, José Murilo. A Formação das Almas: o imaginário da república do Brasil,São Paulo, Companhia das Letras, 1990.
Pessimista, você, heim? Mas eles, os que fizeram essa história, não foram assim pessimistas...
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