Felipe Aragão
Após o debate sobre o primeiro capitulo do livro Formação das Almas, José Murilo de Carvalho, em uma rápida conversa com a Professora IsabelGuillen chegamos num consenso de que o termo estadania usado pelo autor não ficou muito claro. Pois bem, a partir de um artigo publicado no Jornal do Brasil vou comentar e tentar esclarecer mais sobre o que a palavra estadania quer dizer.
Para o autor, Estadania, palavra que ele criou, seria um processo de formação criado de cima para baixo, ou seja, a partir do Estado e grupos dominantes. “Exemplo de cidadania construída de cima para baixo pode ser encontrado na Alemanha. Nesse país, a partir do século XIX, o Estado foi incorporando aos poucos os cidadãos à medida em que abria o guarda-chuva de direitos”. Diferentemente, da Cidadania que tem efetiva partição popular na construção histórica, por exemplo, A guerra de independência dos Estados Unidos ou a Revolução Francesa.
O Brasil, segundo o autor, enquadra-se melhor no modelo de estadania, pois, nenhum dos acontecimentos históricos, como, independência, proclamação da República teriam sido feitas sem a revolução social e política. Isso seria importante para entender a desigualdade social e corrupção existentes, por não se ter uma incorporação à sociedade civil e por um forte espírito de capitalismo, onde as chances de enriquecimento ficam restritas a pequenos grupos dominantes. “Não é um poder público garantidor dos direitos de todos, mas uma presa de grupos econômicos e cidadãos que com ele tecem uma complexa rede clientelista de distribuição particularista de bens públicos.”
A falta de identidade nacional, também é um fator que conta para que esta estadania esteja presente nos dias atuais. Segundo o autor, há uma maior preocupação entre as classes pobres no direito de consumir do que na participação ao direito constitucional. Assim, José Murilo de Carvalho, coloca: “Não poderemos construir uma cidadania, leia-se democracia, sólida sem dar maior embasamento social ao político, isto é, sem democratizar o poder.” Portanto, podemos observar que a partir dessa estadania, termo utilizado pelo autor, o rumo do país estando restrito a um grupo dominante e sem a participação popular não pode gerar bons resultados e continua a fomentar desigualdades, corrupção e contribuindo para o não desenvolvimento da nação.
“A desigualdade é a escravidão de hoje, o novo câncer que impede a finalização do processo de construção da cidadania e da democracia.”
Para quem se interessar em ler o artigo completo, segue o link:
http://www.ifcs.ufrj.br/~ppghis/pdf/carvalho_cidadania_estadania.pdf
CARVALHO, José Murilo de. Publicado no Jornal do Brasil em 24/06/2001, p.8
Felipe, só pra provocar o debate, vc concorda com o ponto de vista do José Murilo. Será que o povo brasileiro é assim tão desinteressado dos seus direitos de cidadania? Parece que no processo de formação do estado republicano não houve mesmo participação popular. Podemos confiar nisso?
ResponderExcluirConcordo em partes. Acredito que a população não tenha tido uma participação direta na formação do estado republicano, no que se refere a ocupação de cargos, no poder, nas decisões politicas. Porém, como o próprio autor coloca na sua obra, Os Bestializados, os militares se colocam como "representantes do povo", ou seja, a população tem um importante papel de legitimar esse poder. Sendo assim, a participação da sociedade é indireta, mas fundamental na medida que ela tem a necessidade de validar essa formação do estado republicano. Pois, como escreve Marcius Cortez, no seu livro Golpe na Alma: "ninguém detém o poder por muito tempo se não tiver o apoio do povo".
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