Por Taciana Barreto
O imaginário que permeia a proclamação da República
brasileira detém um debate historiográfico corrente. Estudos anteriores
mostraram que não houve a participação das massas na sua proclamação, ficando
restrita à elite brasileira, especialmente a elite carioca.
Para iniciar essa discussão acerca da implantação da
república brasileira podemos utilizar como suporte a cultura política, conceito debatido por Rodrigo Motta no livro Culturas
Políticas na História. “Estudos
de cultura política possuem forte convergência com as pesquisas dedicadas às
diversas formas de manifestação das representações políticas (imaginário,
iconografia, mitologias, etc) devido à comum motivação de compreender os
impactos gerados pelos encontros de cultura e política.” ¹ A proclamação
da república brasileira utilizou símbolos e alegorias com a finalidade de
conseguir atingir o imaginário popular – suas vontades, aspirações – aos moldes
do republicanismo. Esse imaginário se expressa por símbolos e alegorias, como
já foi dito anteriormente, mas também por mitos.
O mito da origem da República e a dificuldade de se
construir um herói para o novo regime são debates empreendidos pelo doutor em
ciência política José Murilo de Carvalho em seu livro A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil. Aqui o
conceito de cultura política de Rodrigo Motta se encaixa perfeitamente no
debate de José Murilo. Para o cientista político, “heróis são símbolos
poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de
identificação coletiva. São, por isso, instrumentos eficazes para atingir a
cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes políticos.”
² Como no caso brasileiro o povo não esteve
envolvido na Proclamação da República, a implantação de um “herói nacional” se
faz necessária, como forma de compensação.
A disputa foi grande entre as personagens do 15 de novembro
para o “cargo” de herói nacional. Entre elas o Marechal Deodoro da Fonseca,
Benjamin Constant, Floriano Peixoto, e Tiradentes. Este último foi aos poucos
capaz de atender às exigências de herói, pois os protagonistas do 15 de novembro
estavam tendo dificuldades em se promover como “heróis com a cara do Brasil”.
Apesar de Tiradentes não ter sido personagem propriamente
dito da proclamação da República era o que melhor se enquadrava ao imaginário
popular. A simbologia religiosa e a aproximação de Tiradentes com a figura de
Cristo – traçada inicialmente pelo abolicionista e republicano Luís Gama em seu
artigo “À forca o Cristo da multidão” e depois consagrada por Joaquim Norberto
de Souza Silva – era um apelo à tradição cristã do povo, o que contribuiu
imensamente para ser o “preferido”. Outros motivos importantes para a “vitória”
de Tiradentes: o fato de ele ser o herói da região que compreende Minas Gerais,
Rio de Janeiro e São Paulo, centro político do país no século XIX; ter morrido
como mártir religioso, esquartejado; a batalha ideológica entre D. Pedro I
(Monarquia) e Tiradentes (República); Tiradentes não era só republicano, era
também uma figura do povo, humilde, plebeu, ao contrário de seus rivais do 15
de novembro, que faziam parte da elite.
José Murilo de Carvalho em seu livro A Formação das Almas também faz uma abordagem acerca de dois
modelos de liberdade: a dos antigos – que caracteriza as repúblicas antigas de
Roma, Atenas e Esparta, baseadas na liberdade de participar coletivamente do
governo, ou seja, a liberdade do “homem público” – e a dos modernos – referente
aos novos tempos, esteve presente, por exemplo, na Revolução Americana de 1776,
é diz respeito à liberdade do homem privado.
Essa abordagem dos dois modelos de liberdade é importante
para se entender, segundo o autor, a dificuldade encontrada pelo Brasil de se
adaptar a um dos modelos, pois embora eles não levassem em conta, era de fato
importante o sentimento de identidade, e no Brasil do início da República esse
sentimento não existia no imaginário popular. Portanto a busca por essa
identidade coletiva para o país foi observada na Primeira República (1889-1930)
como uma maneira de “redefinição da República”, “pois foi geral o
desencantamento com a obra de 1889” ³
Podemos concluir que é de fundamental importância para o
entendimento do 15 de novembro o uso do conceito de cultura política e da simbologia
do imaginário popular. Também se pode destacar que a falta de uma identidade
republicana contribui para a criação de um herói nacional, como foi o caso de
Tiradentes no Brasil. Por fim, é válido salientar que embora passados mais de
120 anos após a Proclamação da República, é grande o debate historiográfico
acerca do dia 15 de novembro de 1889.
¹ MOTTA, R. P. S. Culturas
Políticas na História: Novos Estudos. Belo Horizonte, 2009.
² CARVALHO, José Murilo
de. A Formação das almas: O Imaginário da República no Brasil. São Paulo.
Companhia das letras. 1990.
³ CARVALHO, José Murilo
de. A Formação das almas: O Imaginário da República no Brasil. São Paulo.
Companhia das letras. 1990.
Compensação ou legitimação política? Como entender o processo de criação dos heróis? Talvez fosse o caso de explicar melhor o que está entendendo como compensação...
ResponderExcluirola Isabel, acho que você tem Sindrome de Down. Só acho mesmo..
ExcluirDown so pode
Excluirkkkkkk
ExcluirNota: 8,0
ResponderExcluire o 10? Não ta teno não? vadia da porra
ExcluirO QUADRO "A LIBERDADE GUIANDO O POVO" TEM ALGO HAVER ?
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