domingo, 18 de março de 2012

A importância dos heróis nos movimentos sociais e a Proclamação da República


                A humanidade em geral tem certa dificuldade de abstração, para que se compreenda um acontecimento ou um fato qualquer, se faz necessário algo materialize este fato fisicamente, um símbolo que personifique o evento. Desta forma, torna-se mais provável que o evento chegue ao conhecimento da população. Assim, entende-se a necessidade de se buscar um herói para a Proclamação da República, alguém que exalte esse acontecimento, que leve o povo a crer que um grande homem fez algo de grande importância para o desenvolvimento do Brasil; nesse caso, inclusive, por não ter sido um movimento de grande participação popular, a figura do herói é ainda mais importante para criar um vínculo entre a população e o acontecimento.
                Há situações em que os heróis de uma revolução estão bem determinados, devidos a diversos fatores, mas principalmente quando ele tem uma inegável liderança, e se identifica com aqueles que hão de apoiar o movimento. Um notável exemplo é o de Simón Bolívar, considerado o principal expoente da libertação de diversos países latino-americanos. Mas, em outros casos, há que se dar um impulso extra para que este símbolo seja modelado de forma ideal, como ocorreu no caso da Proclamação da República.
                Neste evento, alguns homens seriam candidatos a patronos da revolução, mas a promoção de um herói não pode ser feita arbitrariamente, ele deve ser uma figura na qual a população se identifique. A ideia romântica de que um herói se faz com a sua bravura e determinação não é aplicada no caso em questão.
                Um grande candidato seria Deodoro, militar que se destacava por ter chefiado o movimento que derrubou regime monárquico. Porém, ele tinha uma imagem um tanto desgastada, que lembrava o imperador; além do mais, registra-se que ele tinha uma incerteza quanto à sua opinião sobre o regime republicano.
                Outro possível nome seria o de Benjamin Constant, apesar de ser um grande apoiador do regime republicano, não tinha características de líder, sem relevante apoio popular, se limitando, praticamente, apenas aos positivistas e alguns jovens militares
Floriano Peixoto tinha a bravura e a popularidade, porém, dividia opiniões tanto entre os civis, tendo apoio dos mais populistas quanto entre os militares.
O herói ideal da proclamação foi promovido através da sua luta pela Inconfidência Mineira; Tiradentes, apesar de não ser contemporâneo à Proclamação da República, ele tinha conseguido um apelo popular muito grande. Até mesmo a sua fisionomia idealizada lembrava o Cristo, esse é um fato interessante, porque parece um símbolo dentro de outro, o herói da movimento lembrava o próprio filho de Deus, o homem que morreu pelo Brasil se equiparava ao homem que deu a vida pela humanidade. Essa imagem foi bastante explorada para a formação do mito.
Contribuiu também para expandir a imagem de libertador o fato de que ele provinha da região de Minas Gerais, que juntamente com Rio de Janeiro e São Paulo, era uma das regiões com ideais republicanos mais fortemente consolidados.
José Murilo de Carvalho¹ cita ainda o fato de que Tiradentes foi um mártir por não ter se envolvido em lutas sangrentas, ele aparece como uma vítima do governo e dos seus próprios companheiros, um exemplo de sacrifício. Interessante notar que, ao contrário de Tiradentes, outros nomes citados acima, como Floriano e Deodoro são apontados justamente pelas suas vitórias em batalhas.
Interessante é o fato de que, em várias etapas da história do Brasil, como menciona Carvalho², independente da tendência política, Tiradentes é utilizado para aproximar a população do governo, tentando assim aumentar a sua aprovação, ou ao menos  transmitir uma ideia de proximidade.

Referências Bibliográficas
 
¹ CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o imaginário da república do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990;

² Idem
               

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