A humanidade em geral tem certa
dificuldade de abstração, para que se compreenda um acontecimento ou um fato
qualquer, se faz necessário algo materialize este fato fisicamente, um símbolo
que personifique o evento. Desta forma, torna-se mais provável que o evento
chegue ao conhecimento da população. Assim, entende-se a necessidade de se
buscar um herói para a Proclamação da República, alguém que exalte esse
acontecimento, que leve o povo a crer que um grande homem fez algo de grande
importância para o desenvolvimento do Brasil; nesse caso, inclusive, por não
ter sido um movimento de grande participação popular, a figura do herói é ainda
mais importante para criar um vínculo entre a população e o acontecimento.
Há situações em que os heróis de
uma revolução estão bem determinados, devidos a diversos fatores, mas
principalmente quando ele tem uma inegável liderança, e se identifica com
aqueles que hão de apoiar o movimento. Um notável exemplo é o de Simón Bolívar,
considerado o principal expoente da libertação de diversos países
latino-americanos. Mas, em outros casos, há que se dar um impulso extra para
que este símbolo seja modelado de forma ideal, como ocorreu no caso da
Proclamação da República.
Neste evento, alguns homens
seriam candidatos a patronos da revolução, mas a promoção de um herói não pode
ser feita arbitrariamente, ele deve ser uma figura na qual a população se identifique.
A ideia romântica de que um herói se faz com a sua bravura e determinação não é
aplicada no caso em questão.
Um grande candidato seria
Deodoro, militar que se destacava por ter chefiado o movimento que derrubou
regime monárquico. Porém, ele tinha uma imagem um tanto desgastada, que
lembrava o imperador; além do mais, registra-se que ele tinha uma incerteza
quanto à sua opinião sobre o regime republicano.
Outro possível nome seria o de
Benjamin Constant, apesar de ser um grande apoiador do regime republicano, não
tinha características de líder, sem relevante apoio popular, se limitando,
praticamente, apenas aos positivistas e alguns jovens militares
Floriano Peixoto tinha a bravura e a popularidade, porém, dividia
opiniões tanto entre os civis, tendo apoio dos mais populistas quanto entre os
militares.
O herói ideal da proclamação foi promovido através da sua luta pela
Inconfidência Mineira; Tiradentes, apesar de não ser contemporâneo à
Proclamação da República, ele tinha conseguido um apelo popular muito grande. Até
mesmo a sua fisionomia idealizada lembrava o Cristo, esse é um fato
interessante, porque parece um símbolo dentro de outro, o herói da movimento
lembrava o próprio filho de Deus, o homem que morreu pelo Brasil se equiparava
ao homem que deu a vida pela humanidade. Essa imagem foi bastante explorada
para a formação do mito.
Contribuiu também para expandir a imagem de libertador o fato de que ele
provinha da região de Minas Gerais, que juntamente com Rio de Janeiro e São
Paulo, era uma das regiões com ideais republicanos mais fortemente
consolidados.
José Murilo de Carvalho¹ cita ainda o fato de que Tiradentes foi um
mártir por não ter se envolvido em lutas sangrentas, ele aparece como uma
vítima do governo e dos seus próprios companheiros, um exemplo de sacrifício. Interessante
notar que, ao contrário de Tiradentes, outros nomes citados acima, como
Floriano e Deodoro são apontados justamente pelas suas vitórias em batalhas.
Interessante é o fato de que, em várias etapas da história do Brasil,
como menciona Carvalho², independente da tendência política, Tiradentes é
utilizado para aproximar a população do governo, tentando assim aumentar a sua
aprovação, ou ao menos transmitir uma
ideia de proximidade.
Referências Bibliográficas
¹ CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o imaginário da
república do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990;
² Idem
ok
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