O passado está sendo constantemente revisto pelos historiadores, dando uma nova análise, criando novas leituras dos fatos. Essas leituras são influenciadas por todo um conjunto de fatores que o pesquisador está inserido, seja o seu tempo, seu local de origem, seja até mesmo a sua idade. Isso faz com que o passado esteja sempre em movimento, sendo desconstruído e reconstruído diversas vezes por múltiplas visões. Não seria diferente com a proclamação da República do Brasil, que já foi analisada diversas vezes ao longo desses cem anos. A análise sobre a proclamação é uma tarefa difícil a ser realizada pelos nossos contemporâneos, pois na própria época em que aconteceu, houve várias versões que foram surgindo para explicar como o Brasil havia se tornado uma nação governada por meio do republicanismo. Porém, nenhuma versão que defendia a participação ativa dos republicanos civis conseguiu se firmar e ganhar muitos defensores.
Logo após a proclamação da República, vários foram os lados que tentaram divulgar uma versão que deveria ser tida como oficial sobre os fatos que desencadearam no fim do Império e na chegada do modelo republicano de governo ao Brasil. Proclamador, consolidador, mestre, quem deveria receber cada papel de destaque, gravando seu nome na história brasileira, nos momentos cruciais da transição do sistema de governo brasileiro? Não faltaram versões para atribuir esses papéis de destaques para diferentes personagens. Deodoro da Fonseca, Benjamin Constant, Floriano Peixoto, todos esses possuíam defensores. Todas essas personagens eram militares, o que nos leva a fazer um questionamento sobre uma possível participação de algum republicano civil no surgimento da república brasileira.
Quintino Bocaiúva era o chefe do Partido Republicano Brasileiro em 1889, mas não conseguiu nenhum papel de destaque nos acontecimentos que levaram à República. Segundo José Murilo, os republicanos civis só tomaram conhecimento da conspiração quatro dias antes do dia da proclamação, e apenas para que esta não fosse vista apenas como uma ação militarista. Curiosamente, o oposto que iria acontecer no século seguinte, naquele que foi chamado por muito tempo de golpe militar, mas que hoje já percebemos que houve um grande apoio da ala civil da sociedade brasileira. Diferentemente da Revolução Francesa, um movimento que inspirava muitos republicanos da época, os civis brasileiros apenas assistiram o desenrolar dos fatos, enquanto os civis franceses conseguiram ditar os rumos da sua revolução.
Alvaro Duarte.
ok
ResponderExcluir