Amanda
Alves
Como foi muito bem apontado por
Rodrigo Patto, os estudos sobre a categoria de Cultura Política são bem
recentes, e atualmente ganha muita audiência por convergir várias disciplinas
interessadas no encontro entre a política e a cultura. Essa nova abordagem revela que os estudos
políticos estão imbricados aos fenômenos culturais, complexando, assim, a análise
política de um determinado lugar.
No texto Desafios e possibilidades na apropriação de cultura política pela
historiografia o autor Rodrigo Patto, deixa claro que o grande interesse
geral por essa nova categoria se explica pela hegemonia do paradigma
culturalista que há no final do século XX. Patto também ressalta nesse texto
que o conceito de cultura política está relacionado a um conjunto de valores,
costumes e representações simbólicas que constroem uma identidade coletiva de
um determinado lugar, repercutindo na formulação de projetos políticos futuros.
Podemos utilizar o conceito de
cultura política quando tratamos do momento histórico em que o Brasil torna-se
República. Durante esse período de mudança política da história do Brasil houve
uma necessidade de construir um novo imaginário popular que negasse os signos
monarquistas. José Murillo de Carvalho em seu livro A Formação das Almas: o imaginário da República no Brasil vem
explicar os métodos utilizados pela elite para a reconstrução desse imaginário
social para que fosse possível a formulação de uma identidade republicana para
o Brasil. Como havia alguns grupos políticos republicanos que divergiam
ideologicamente, cada um deles pretendia estabelecer seus signos e suas ideias
de república, ocorrendo, assim, uma disputa de símbolos entre eles.
A partir da proclamação da República,
houve uma necessidade de se estabelecer um herói nacional que convergisse todos
os partidos republicanos e também os monarquistas. Porém, a batalha de imagens
e signos dificultava a escolha desses heróis, e como afirma José Murillo de
Carvalho, a pequena expressividade da proclamação
não foi terreno fértil na busca desses mitos nacionais, sendo necessário fazer
um regresso ao tempo das batalhas pela independência.
Foi escolhido,
então, Tiradentes para representar a República brasileira, sendo mitificada a
sua figura através de uma construção imagética (reproduções plásticas e
literárias), transformando-o até em um Cristo cívico. Ou seja, para que fossem tecidos
os panos de uma identidade nacional republicana foi preciso cessar essa batalha
ideológica dos grupos políticos da proclamação através da adaptação da imagem
de Tiradentes, para que ela fosse aceita por todos.
Portanto, pode-se
dizer que analisar a república brasileira a partir de seus mitos e alegorias é
uma forma de se trabalhar com a perspectiva de cultura política. Essa nova
abordagem permite uma visão mais ampla da construção política de um país, pois se
preocupa com a criação do imaginário popular e com a formação das bases
simbólicas daquele regime político. Isto é, essa categoria mergulha fundo na
mentalidade da nação tentando explicar a história política através dos signos e
comportamentos da população.
CARVALHO, José Murilo de. A Formação
das Almas: o imaginário da república do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990.
SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. Culturas
Políticas na História: Novos Estudos. Belo Horizonte, 2009.
Ao discutir como se formam heróis, e demais elementos desse imaginário político republicano, o autor está preocupado em entender como se formou uma cultura política (ainda que não expresse o conceito!) e suas repercussões na formação de uma cidadania. Concorda?
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