domingo, 1 de abril de 2012

15 DE NOVEMBRO: MUDANÇAS OU UTOPIAS?

Rosana Maria

A proclamação da república no dia 15 de novembro de 1989 instaurou um novo regime sobre a forma de uma república federativa presidencialista de governo no Brasil. Essa mudança na forma de governar foi conseqüência de articulações dos militares para derrubar a monarquia, pondo fim a soberania de dom Pedro II.
Segundo José Murilo de Carvalho (1990) muitas hipóteses e mitos são levantados a respeito do acontecimento de 15 de novembro. Mas, o que é de grande relevância para o estudo desse episódio é saber de que maneira a proclamação trouxe mudanças para a sociedade brasileira.
 Após a proclamação da república em 1989 se buscou o extravasamento da visão ideológica da causa republicana para um mundo extra-elite. Segundo José Murilo de Carvalho 1990, p.10: “[...] Ele não poderia ser feito por um discurso, inacessível a um público com baixo nível de educação formal. Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais, de leitura mais fácil, como imagens, as alegorias, os símbolos e mitos.”
A criação de mitos e símbolos para tentar explicar a população não letrada foi uma forte aliada para republicanos, pois estamos falando de um país que acabou de sair recentemente de um período de escravidão, além disso, o índice de analfabetismo assolava mais da metade da população.
Para se ter uma idéia de quanto à população ainda era em sua maioria analfabeta, a lei de 1881 que introduziu o voto direto e exigiu que os eleitores soubessem ler e escrever reduziu o eleitorado que era de 1% numa população com cerca de 14 milhões de habitantes. Desse modo, como proclamar mudanças em uma população que não sabia nem o que era república ou até mesmo que ela tivesse sido proclamada no Brasil. (CARVALHO, 1990)
O que vale ressaltar desse período é que a república não foi uma coisa necessária para o povo brasileiro, ela foi algo almejado por uma elite, ou seja, por uma minoria. A grande massa da população clamava por mudanças mais profundas e por ideais revolucionários mais próximos de sua realidade, e menos utópicos, ao contrário da Revolução Francesa, tão aclamada pelos republicanos como modelo a ser seguido, como uma bandeira a ser levantada.
 Não houve uma revolução prévia no Brasil antes da proclamação da república, mesmo tendo a abolição da escravidão com uma realidade brasileira, a sociedade ainda caracterizava-se por uma profunda desigualdade e pela concentração do poder. Diante disso, segundo José Murilo de carvalho, 1990, p.25, “o liberalismo adquiriu um caráter de consagração da desigualdade, de sanção da lei do mais forte”.
Portanto, a república representou uma utopia, pois, esta se distanciou dos ideais dos que primeiro levantaram a bandeira da república no Brasil. E o povo em sua maioria assistiu “bestializado” ao novo acontecimento, pois a proclamação influenciou tão pouco na sociedade não letrada que muitos nem perceberam que a monarquia caiu.

Referência
CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o imaginário da república do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990, p.7-73.

Um comentário:

  1. Pense um pouco mais se a implantação da República foi assistida passivamente, como vc dá a entender. O ideal seria que vc pudesse discutir melhor os processos, ou modos, de legitimação da república instituídos pela elite, que vc apenas pontuou... (7,0)

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