Bruno
Vitor
A obra de José Murilo de Carvalho se
propõe a analisar o Rio de Janeiro no período pós-proclamação da república e
tenta compreender qual o lugar da população fluminense em geral (“o povo” que a
tudo assistiu bestializado) nesse processo.
Logo no início, afirma-se que o período
inicial da República, mais precisamente a primeira década, foi o mais turbulento da cidade do Rio de
Janeiro. Uma série de transformações estavam já há algum tempo tomando forma e,
com a mudança do regime monárquico para o republicano, em tese mais participativo,
mexeram com os ânimos da capital brasileira.
O autor faz uma análise dessas
transformações e examina suas consequências: o aumento populacional e seus
desdobramentos (as mudanças nas relações de trabalho, as condições de vida
precárias, o aumento da criminalidade e as desestruturação familiar); os
problemas econômicos enfrentados pelo novo regime mais liberal (inflação, alto
índice de especulação financeira e o aumento de impostos etc.) e as questões
políticas e sociais são as principais levantadas por Carvalho. Ressaltasse as
expectativas de alguns setores da sociedade para com a República, e sua frustração,
além das mudanças de valores no que diz respeito aos costumes. O historiador constata
uma mudança de comportamento, que se tornara mais “solto”, e uma valorização do
enriquecimento fácil em detrimento do trabalho duro e honesto. Aparentemente, a
república incentivou a libertinagem e a vida descomprometida.
Em seguida, é analisada a repercussão
da república entre as camadas populares. O autor pondera que a proclamação se
deu num momento em que a popularidade da monarquia estava em alta, principalmente
por conta da abolição da escravatura. Outro aspecto é que, ironicamente, havia
um distanciamento entre o governo republicano e a população. A ordem do dia era
criar um novo “pacto de poder” em substituição ao imperial.
Carvalho também analisa a efervescência
de ideias ocorrida com o fim do Império, ressaltando que foram importadas
diversas correntes de pensamento que no Brasil se fundiam e se confundiam. Dentro
desse contexto é que se discute a questão da participação popular na vida
política e o conceito de cidadão ativo e inativo. Fato interessante é notar que
a República excluía tanto quanto o Império em questões de participação política,
ou seja, liberalismo não tinha necessariamente a ver com democracia.
Na prática, a participação popular no
novo regime destoava dos discursos republicanos proferidos na época por seus
partidários e do próprio conceito de República, daí a grande frustração causada
pela proclamação naqueles que esperavam mais dela nesse sentido.
A afirmação de que o “povo” não se
interessava por política origina uma reflexão nessa obra. Ao constatar tais
afirmações preconceituosas de intelectuais estrangeiros, o pesquisador se
debruça sobre o papel que era relegado a população de um modo geral nos
primórdios da República. Chega-se a conclusão de que a participação política das
camadas populares não se dava de maneira formal, e sim através de meios
alternativos.
Ora, como já foi dito, o sistema
político excluía uma parcela significativa da população, de modo que não lhes
era possível expressar sua vontade através do voto. Entretanto, também se
encontra a auto-exclusão do processo político por parte daqueles que dispunham
desse instrumento. O autor pondera que o próprio sistema eleitoral era
corrompido, através de fraudes eleitorais e até mesmo da violência física, e na
prática acabava não representando os interesses dos votantes. Deste modo, o
exercício eleitoral tornava-se um desafio e um esforço inútil para o eleitor e
este acabava optando por não participar dele.
Entretanto, para ilustrar a atividade
política da população, José Murilo de Carvalho faz uma análise sobre a Revolta
da Vacina, na qual as camadas menos atuantes politicamente na República (pelo
menos formalmente) se organizam e fazem frente à decisão do governo de impor a
vacinação obrigatória. Embora as motivações da revolta sejam ainda discutidas,
parece que a intenção é demonstrar através de um exemplo prático e de grande
repercussão que o Rio de Janeiro tinha sim um povo e que este era atuante, ao
seu modo, mas atuante.
Já na política formal, a participação
dava-se de forma diferente. Os termos bilontra
e bestializado são utilizados pelo
autor para definir os diferentes posicionamentos diante das formalidades da
República. O primeiro tinha consciência (ou talvez tenha sido forçado pelas
circunstâncias a ver dessa forma) de que todo o jogo político não passava de
uma grande farsa e entrar nele era perda de tempo. Já o segundo, buscava
através da participação formal na vida pública e no exercício de sua limitada
cidadania, influir nas decisões políticas, motivo pelo qual era alvo de
chacotas, visto como distante da realidade.
Tal posicionamento reflete a forma como
se deu a mudança para o novo regime republicano no Brasil. A análise do Rio de
Janeiro, ainda que limitada a este espaço, ajuda a compreender a formação da
cultura política do brasileiro. Um sistema de governo indolente ou restritivo
não pode contar com a participação da população. Esta, por sua vez, não se
sentido contemplada pelos mecanismos legais e formais de participação, irá
buscar de outras maneiras garantir seus direito e defender seus
posicionamentos.
Trabalho bem sintético. Poderia ter desenvolvido melhor os argumentos. NOta: 7.5
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