- Por: Lucas Rossiter de Miranda Coelho
A introdução do livro “OS BESTIALIZADOS” de José Murilo de Carvalho, começa basicamente com a apresentação da frase de Aristrides Lobo, que tratava sobre a proclamação da Republica dizendo que o povo assistiu tudo aquilo “bestializado” em seguida o autor faz uma análise sobre essa frase e a frase do francês Louis Couty, que falava basicamente da falta de representatividade do povo brasileiro em relação a política. Após isso fala sobre as esperanças da Republica que “traria o povo para o proscênio da atividade política, mas que ao fim de tudo não mudou muita coisa, e para finalizar a introdução o autor explica que seu trabalho é baseado na cidadania do Rio de Janeiro, devido a sua população de 500 mil pessoas e também ao fato de que “O comportamento político da sua população tinha reflexos imediatos no resto do país” (P.13).
Com a diminuição da participação no novo governo, muitos setores da sociedade se viram decepcionados e acabaram saindo da cena turbulenta da política. O autor diz que a sociedade não tinha uma coletividade plena, era uma coletividade fragmentada pela religiosidade, pela etnia e outros grupos menores. Um exemplo é a Republica dos cortiços, descrita pelo autor como algo coeso e defensor dos “seus”. O autor finaliza dizendo que o Rio se resumiu a cartão-postal do pais, tendo suas reformas higiênicas de urbanização transformado-a em uma Paris da belle époque. Diminuindo os problemas sociais. Que por outro lado foram “dominando” as festas e ações da elite como forma de se exprimirem e mostrar que ainda “existiam” os dois maiores exemplos de identidade coletiva da cidade foram o futebol e a celebração do carnaval.
Seguindo adiante, o autor demonstra a parca instauração de direitos sociais que acabou diminuindo gravemente os direitos políticos, criando uma distinção entre cidadão ativo e cidadão simples, sendo o ativo aquele com a capacidade de participar de decisões políticas, José Murilo de Carvalho é exemplar ao demonstrar todas as diferenças de pensamentos que permeavam essa discussão, desde a questão das diferenças entre modelos que se tentavam se aplicar, até a diferença entre favorecimento a pátria e favorecimento à comunidade. Outro ponto importante é a apresentação do “estadismo” exemplificada pelos militares no texto. Era uma vontade de não só pertencer ao estado, mas poder trabalhar em contato com o mesmo, quase que diretamente. Mas não eram apenas os militares que buscavam o estadismo, o texto demonstra alguns lideres de movimentos operários que também iam em busca dessa participação, eram conflitantes as propostas de cidadania.
O terceiro capitulo, José Murilo usa os censos para explicar a sociedade brasileira e fluminense na sua composição, como forma de mostrar se essa população era ativa, inativa, revoltosa ou bestializada. Pergunta também qual é o tipo de sociedade que se tentava ver quando analisava-se a sociedade fluminense na época da proclamação da Republica, qual seria a base de sociedade que apresentava a nossa como “Bestializada”. Ainda sobre o “povo político” José Murilo continua utilizando os censos para mostrar quem votava. E apresentar em números a “inexistente” participação eleitoral. Além disso era extremamente perigoso votar, devido a presença de capoeiras que garantiriam as preferências dos que lhe contratavam, além de haver um caso de um político contratar um medico para cuidar dos feridos do seus próprios capangas, soma-se ao quadro de inexistência de eleitores, a inexistência também de partidos. O que corroborava a ideia de um “Rio de Janeiro sem povo” ao menos no sentido político formal. Pois esse povo se mostrava ativo nas suas revoltas.
Entre todas as revoltas a que se destaca e representa mais é a Revolta da Vacina, a ideia central desse capitulo, não é explicar a revolta em si, pois é algo que sabemos, mas trazer através da revolta um panorama dos cidadãos “ativos” da época. O clima de revolta, deu-se a principio pela imposição da obrigatoriedade da vacina, além do fato “social” segundo um chefe de família que via a honra de suas mulheres maculadas por mostrarem os ombros e o colo para esses médicos. Dizia que não era possível apelar para a constituição, mas sim para a legitima defesa feita com “armas na mão”. As classes participantes seriam nas primeiras manifestações jovens estudantes e pessoas que segundo suas vestes seriam da classe operaria, segundo um jornal da época. Com um leve exagero o autor mostra a forma como o povo lutava por seus direitos e “por politica” sob a forma de revoltas, diante das barreiras colocadas pelo governo para a sua participação política, além de tudo esse povo se mostrava não mais um povo bestializado (como pretendeu-se falar alguns intelectuais) Mas de acordo com os ditos do quinto capitulo, esse povo se formou como uns “bilontras” como aqueles que viam e entendiam o que estava acontecendo, mas preferiam se manter a parte de todo esse jogo político. É aquele que já sabe que a política não é pra valer, que não vale a pena se desgastar nesse jogo, sabe também que é melhor ser politizado do que bestializado.
A grande sacada do livro de José Murilo de Carvalho, é a forma como a narrativa prende, mesmo em alguns momentos havendo “informação demais” são informações interessantes que acabam prendendo o leitor ao desenrolar do livro, salvo alguns exageros (na minha visão) na importância do Rio em relação ao resto do país. É um livro que retrata muito bem as discussões de cidadania, sociedade e sobre as mudanças políticas do começo da Republica e que deixa uma duvida interessante na cabeça do leitor, seria o povo bilontra ou bestializado?
____________________ CARVALHO, José Murilo. Os bestializados: o Rio Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
E para José Murilo, é bilontra ou bestializado?
ResponderExcluirNota 7.0