segunda-feira, 16 de abril de 2012

Resenha do livro: Os Bestializados - O Rio de Janeiro e a República que não foi.

Felipe Aragão 

Como descrito no titulo, o livro vai tratar da República no Rio de Janeiro, com seu tema central sobre a participação do povo na formação desta. A partir da afirmação dita por Aristides Lobo de que o povo em vez de protagonista teria assistido a formação da republica bestializado, J. Murilo de Carvalho vai trabalhar alguns pontos para buscar entender que povo era este, o imaginário político dele e a pratica política. Observando as relações entre o Rio de Janeiro e a República, República e cidadanias, cidadãos inativos e ativos e se o povo era bestializado e bilontra, o autor constrói a argumentação para a tese central do livro.
No capitulo I, aborda sobre as profundas mudanças que se dão no Rio de Janeiro com a mudança e impacto do regime político. Transformações de cunho econômico, social, político e cultural.
Um dos fatores que mudam com a República é a de ordem demográfica, ocorre o aumento tanto da população nativa como a imigração, pessoas que vinham de outras partes do Brasil e de fora do país, em maior número os portugueses. Essa imigração mostra alguns dados interessantes, por exemplo, o desequilibro entre os sexos, a população masculina era mais que o dobro da feminina, assim, tinha-se um alto número de solteiros e, portanto, um menor número de famílias regularizadas.
Com tantas pessoas habitando o Rio de Janeiro, ocorre um acumulo de pessoas em ocupações mal remuneradas ou sem ocupação fixa. População esta que era vista como classes perigosas, como, ladrões, prostitutas, malandros, ambulantes, jogadores etc. Essas pessoas vão se achar em péssimas condições de vida, principalmente no que se refere a problemas de habitação, saneamento e higiene. Outro ponto importante a se destacar é o aumento do custo de vida que vai ser agravado por encarecimento dos produtos importados, inflação generalizada, pela imigração que aumentava a oferta da mão-de-obra.
Há uma importante movimentação de idéias que não são próprias, mas sim, em geral, misturas do pensamento europeu. Apesar da Republica ter como principio uma melhoria em relação ao sistema imperial, a atitude dos militares, que no começo estavam no poder, não mostravam isso. A tal ponto que partes da população, em especial, a negra, queriam a volta da monarquia. Assim, os dominantes do setor agrário entram na briga para deter o poder, porém, sem intenção de mexer nas estruturas sociais. E nessas disputas observam-se inúmeras fraudes eleitorais.
Com isso a expectativa de uma maior participação popular na Republica, como diz o autor foi frustrada, tendo destacado-se poucos grupos. Dentre eles, os intelectuais, jacobinos, operários e algumas lideranças socialistas. E apesar da maior parte da população não ter participação ativa na política, foi surgindo os primeiros elementos que formariam a identidade social do país.
No segundo capitulo do livro, o autor vai começar tratando sobre o papel da Republica na garantia dos direitos civis e políticos da população. Apesar de haver um leve aumento no quadro eleitoral, acabando com o voto censitário, a República, militares, irá diminuir suas responsabilidades com a população e tenta restringir algumas formas de protesto, como, a tentativa de proibição as greves e coligações. Como diz o autor, a República fez muito pouco em termos de direitos civis e políticos.
A idéia de ditadura republicana foi vista como uma concepção adequada para este quadro. A partir de então surgem vários grupos de camadas da população que vão brigar por uma ampliação dos direitos civis e políticos. Surge o grupo dos militares que se dizem representantes do povo. Os operários do Estado também visam uma oportunidade de inserção na vida política.
Alguns pensamentos ideológicos vão se formando, o primeiro veio da noção positivista que não aceitava partidos e a própria democracia, mas apenas a ampliação dos direitos civis. O socialismo democrático também vai aparecer, sua principal proposta era lutar por maior participação e conseguir reformas. E os anarquistas que se dividiam em dois ramos: os anarquistas comunistas e individualistas. O primeiro queria a revolução social, pelo fim da propriedade privada e do Estado, porém, admitiam o sindicalismo como arma de luta. O outro, também queria a erradicação do Estado, contudo, era contra qualquer forma de organização. Estes grupos, cada qual com seus objetivos, vão lutar para conquistar, ou ampliar espaço,assim como, farão propagandas negativas uns dos outros.
A pouca participação da população na vida política é colocada no terceiro capitulo. Logo no inicio é observada algumas afirmações de inexistência de um povo, identidade nacional, colocadas por Raul Pompéia, por exemplo. Todavia, J. Murilo de Carvalho vai buscar mais a informações sobre essa pouca participação e interesse da população. Assim, o autor coloca que o problema não estaria na ausência do povo, mas sim, no excesso deste. Existe o povo bom, que seriam os nacionalistas; e o mau, que cabia aos estrangeiros, em especial o português, que eram considerados monarquistas, antinacional e politicamente apáticos. Também cabia a corrupção praticada, especialmente, na fraude as eleições. Uma parcela de culpa na falta de interesse do povo brasileiro, que não viam seriedade nos comandantes do estado. Isso, junto com outros fatores, resultava num forte numero de cidadãos que não possuíam o direito ao voto e nem de participação na vida eleitoral.
A revolta da vacina, no quarto capitulo, vai mostrar um lado mais ativo dos cidadãos da republica. Considerada a principal revolta da época, ela vai levar a população a procurar seus direitos contra a obrigatoriedade, contra a invasão do lar e o desrespeito à moralidade. Esse capitulo é dividido em três pontos: o primeiro é a revolta, no qual o autor descreve como ocorre a batalha. O segundo trata dos Revoltosos. Aqui se analisa alguns lideres da revolta, a grande participação do operariado, algumas tabelas com alguns dados sobre os participantes da revolta. Ficando para o terceiro ponto expor os motivos da revolta. Além do apelo contra a obrigatoriedade da vacina, encontra-se entre os lideres um motivo maior. A regeneração da República. Acabar com a república dos fazendeiros, com uma República prostituída. Apesar de começar pela legitima defesa dos direitos civis, e de ser vista por alguns veículos da imprensa como uma grande arruaça, a revolta da vacina ganhou intenções muito maiores, que chegam até uma tentativa de derrubar o governo. Isso mostra que o povo não era tão ausente da política quando via seus direitos sendo violados.
Bestializados ou Bilontras? Essa questão levantada por José Murilo de Carvalho, sobre como se comportava os cidadãos cariocas vai se tornar bem polêmica na medida em que não se tem uma definição para quais os cariocas se encaixavam. J. Murilo de Carvalho recorre a estudos da Sociologia, onde coloca a península Ibérica como ligada ao passado medieval, o que torna sua cultura individualista, ao contrário da Anglo-Saxônica. Bestializados seriam aqueles que em vão tentam participar da vida política, levando a política a sério. Bilontra aquele que sabia que a República não era pra valer. Aqueles que assistiam aos acontecimentos sem procurar envolvimento.
O livro escrito por J. Murilo de Carvalho traz ricas informações para o conhecimento da cidade do rio, naquela época a capital do país, e suas relações, principalmente entre cidadãos e o Estado. Porém, acredito que generaliza quanto à questão da ausência de participação política da população. Apesar de este ser um excluído na participação direta do poder político, foi visto, com o exemplo da revolta da vacina, que ele buscava seus direitos e a melhoria da sua condição. E a partir da procura do apoio popular que grupos buscavam força para engrenar e validar o poder dele, ou seja, o povo mesmo que indiretamente era peça fundamental na vida política.

Um comentário:

  1. Felipe, tá mais pra fichamento do que para resenha, e em alguns momentos confuso...
    Nota: 7,5

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