segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sobre o significado de "cambão"


Encontrei no site da Fundação Joaquim Nabuco, na página sobre Francisco Julião, essa explicação sobre o termo que deixou dúvidas na última aula:

  "Na zona canavieira nordestina, (Julião) constatou  que muitos senhores de engenho alugavam terras. Uma parte delas era destinada aos que deviam trabalhá-la todos os dias. Esse tipo de trabalhador era chamado de eiteiro e recebia um pagamento em dinheiro. Outros alugavam a terra, pagando uma importância em dinheiro por ano, ficando ainda na obrigação de trabalhar certos dias para o senhor da terra, sendo denominados de foreiros. No Nordeste, a palavra “cambão“ expressa o dia de trabalho que o foreiro dá ao patrão sem receber nada em troca."

Essa era uma das muitas práticas abusivas do patronato rural em Pernambuco. Notem que esse sistema remete a corveia medieval, a obrigação que o servo tinha de trabalhar gratuitamente para o senhor em determinados dias.
Já eiteiro vem de "eito", que é o termo usado para  designar ação, atividade. Ir para o eito é trabalhar mesmo.

Fonte: GASPAR, Lúcia. Francisco Julião. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 10 de abril de 2012.

3 comentários:

  1. Massa Bruno! Também lembrei de uma passagem no texto de Montenegro que lemos em sala ("O Nordeste em movimento", In "O Brasil Republicano", livro 3). Em certa passagem do texto ele discorre sobre os abusos e exploração por parte de proprietários sobre trabalhadores rurais, mencionando algumas práticas comuns, dentre elas a conhecida popularmente como "cambão". Segue a passagem do texto, que está no último parágrafo da página 260:

    "O governo caminha entre dois focos. De um lado, os proprietários, herdeiros de uma longa tradição de completo domínio sobre os trabalhadores/moradores de suas terras. Reproduzem práticas patriarcais, em que pequenos favores e apadrinhamentos se misturam com relações de exploração, que se manifestam através do cambão, do foro, do 'pulo da vara', do barracão e aparecem como naturais. O morador - submetido ao 'regime de condição', como é conhecido - tem obrigação de prestar dois ou três dias de trabalho por semana ao engenho ou fazenda. Já o foreiro arrenda um lote da terra , mas tem de conceder 10 a 20 dias de trabalho gratuito por ano ao proprietário, podendo enviar uma terceira pessoa para substituí-lo, no sistema conhecido por 'cambão'. O "pulo da vara" é uma expressão muito comum na zona canavieira; o administrador, ao medir com uma vara a extensão da terra trabalhada, comumente salta um ou dois passos em relação à marca anterior. Assim, um trabalhador que haja cortado, plantado ou preparado uma terra de oito quadras (essa é a medida) é pago como havendo trabalhado seis."

    Na sequência ele ainda discorre sobre o barracão, sobre o que não surgiram maiores dúvidas na aula, e fecha o raciocínio tratando das Ligas Camponesas. Vale lembrar que o período trabalhado no texto é o da transição dos governos JK-Jânio-Jango (fins da década de 1950 início da de 1960), quando as reportagens de Antônio Callado denunciam a "indústria seca", ou seja, "os mecanismos através dos quais os latifundiários transformam os problemas decorrentes da seca em um grande negócio". Mas sabemos que a exploração dos trabalhadores rurais e suas condições de trabalho análogas à escravidão não se resumem ao período em questão, assim como as práticas descritas - são práticas persistentes na história do Brasil, assim como de outros países em que ainda predomina o latifúndio. Enfim, espero ter ajudado, também, a esclarecer a dúvida acerca do termo.

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  2. Estamos lendo esse mesmo texto no curso de Mestrado em Direito Agrário na UFG. Muito obrigada por suas informações, sem elas eu não eria conhecido o real significado de tais expressões.

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  3. Após intensa pesquisa em livros especializados em práticas agrícolas e em vários dicionários encontrei facilmente no Google as explicações necessárias sobre o significado do termo "cambão".

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