Por: Volnei Neto
Na
obra, Os bestializados, de José Murilo de Carvalho, o autor tenta
remontar, diante de uma ótica própria e muita pesquisa, todo caldeirão
de mudanças que ocorreram com o surgimento
da república no Brasil. Ele nos convida a revisitar o Rio de Janeiro em
seus primeiro passos como capital federal desta fase política e de como
o povo inserido neste contexto reagiu a estas mudanças.
Como
o próprio autor afirma em sua própria conclusão o livro transita em
torno de três temas: o regime político, a cidade e a prática popular no
que diz respeito a cidadania propriamente
dita, ou seja, a forma como a população se comportava em relação as
práticas políticas vigentes.
José
Murilo acredita e fala em sua obra “que a republica, mesmo no Brasil,
apresentou-se como regime da liberdade e da igualdade, como o regime do
governo popular”. Ele também diz
que a “cidade é o berço da civilização moderna” e que o Rio por ser a
maior cidade apresentava todas as condições para “fornecer o caldo de
culturas de liberdades civis, base necessária para o crescimento a
participação popular”. Pg 161. O período de mudança
de Império para a República ocorreu num momento em que o exercício da
cidadania sofria sua primeira alteração de regime político após a
Independência, o regime republicano tinha como objetivo aproximar mais o
povo das atividades políticas, pelo menos assim
desejavam os propagandistas mais radicais. Embora não tenha havido
participação do povo na proclamação da republica, esperava-se que este
despertasse na população excluída, à vontade de participar ativamente do
novo regime.
Durante
o transcorrer de sua obra observamos que o autor se embasa em uma
profunda pesquisa, mais que a maioria dos fatos colocados traz consigo
uma idéia de inércia do povo diante
de toda reformulação política que ocorria neste momento histórico. Em
sua visão a resultante dos embates ideológicos realizados na época, a
ideologia das elites dominantes foi a que prevaleceu e esta passou de
forma arrasadora nas formas alternativas de cidadania.
Verificamos
que a obra faz uma abordagem bastante interessante sobre os cidadãos
ativos e inativos, observamos duas vertentes importantes: Numa se
encontra os ativos, cuja qual esta
uma pequena parcela da sociedade e onde mesmo sendo grupos que se
inseriam dentro pequena desta pequena parcela com direito a vota em sua
maioria não exerciam este direito. Para se ter uma idéia 28% da
população tinha direito a voto e apenas um pequeno percentual
deste votava. Na outra vertente estavam à imensa maioria da população,
que apesar de serem cidadãos livres não possuíam direito a voto.
De
fato vemos bons argumentos de José Murilo refutando a apatia política
na cidade do Rio de Janeiro, porém acredito que o mesmo tem uma
tendência a analisar o povo brasileiro baseado
num padrão europeu
Outro
ponto que vale a pena constar neste texto é o fato de que boa parte dos
cidadãos nesta época era estrangeira fazendo assim que as diversas
etnias dificultassem a criação de uma
ideologia própria.
Analisando
a obra com um pouco mais de cuidado o próprio autor traz no último
parágrafo do capítulo três, um trecho que fala da participação popular.
“em
termos do sistema político formal, Couty e Raul Pompéia tinham razão: O
Rio não tinha povo. O povo do Rio, quando participava politicamente, o
fazia fora dos
canais oficiais através de greves políticas, de arruaças, de
quebra-quebras. Ou mesmo de movimentos de natureza quase revolucionaria
como a revolta da vacina. Mais a maior parte do tempo dedicava suas
energias participativas e sua capacidade de organização
a outras atividades”
A
citação acima, mesmo que de forma pejorativa, mostra indícios da
participação indireta do povo e mostra também que existia uma discussão
sobre política, onde a mesma algumas vezes
chegavam até a vias de fato, fazendo assim transparecer a vontade
popular.
Conforme
citação do próprio autor, "a república que não era cidade, não tinha
cidadão". "O povo não se enquadrava nos padrões europeus". Por isso,
impossibilitada de ser "a República",
a cidade mantinha suas repúblicas particulares, ou seja, seus núcleos
de participação social, nos bairros nas associações, nas irmandades, nos
grupos étnicos, nas igrejas, nas festas religiosas e profanas e mesmo
nos cortiços e nas rodas de capoeira, que se
transformaram, ao longo dos anos, em estruturas comunitárias que não se
encaixavam no modelo contratual do liberalismo dominante na política. A
despeito, foi a evolução destas repúblicas, algumas inicialmente
discriminadas, que, se não perseguidas, que se
formou a identidade coletiva da cidade.
Foi
nelas que se aproximaram povo e classe média, foi nelas que se desenhou
o rosto real da cidade, longe das preocupações com a imagem que se
devia apresentar a Europa. Foi o futebol,
o samba e o carnaval que deram ao Rio de Janeiro uma comunidade de
sentimentos por cima e alem das grandes diferenças sociais que
sobreviveram e ainda sobrevivem. Negros livres, ex-escravos, imigrantes,
proletários e classe média encontraram nessa resistência
o reconhecimento que lhes era negado pela sociedade e pela política,
que os marginalizava, restringindo o seu forte apelo cultural. Apesar de
terem se bestializado com a instalação do novo regime, que
hipocritamente veio tolir seus direitos, eles deram a volta
por cima.
Bom trabalho. Incompleto em alguns sentidos, porque faltou discutir, conforme seus próprios argumentos pediam,o conceito de bilontra...
ResponderExcluirNota: 8.0