de Alexandre Aguiar
Introdução
A introdução
do presente livro, o autor descreve de como vai fazer a análise sobre o povo,
tendo como tempo os anos iniciais da Primeira República (1889-1930), com ênfase
no período de transição entre o Império e o novo regime político, o espaço
seria a capital do Brasil na época, e como o próprio autor cita o coração do
país, e que seria palco de atividades políticas de grande importância para a
proclamação e para o período posterior para a consolidação da República. Em
suma o livro segundo as palavras de José Murilo de Carvalho, tem como principal
missão: “tentar entender que povo era
este, qual o seu imaginário político e qual sua prática política será a tarefa
que enfrentaremos ao longo dos capítulos deste livro” (CARVALHO: 1987; pág.
13).
Apesar do título do livro fazer
referência à famosa frase de Aristides Lobo, que dizia que o povo assistiu a
proclamação da república, bestializado, o livro tenta desconstruir a idéia de
que o povo não era tão bestializado assim.
Capítulo I: O Rio de Janeiro
e a República,
No
primeiro capítulo do livro o autor faz uma análise sobre a cidade do Rio de Janeiro
nos primeiros anos da República, que segundo ele, é um dos períodos mais
turbulentos da historia da cidade, que passa por diversas transformações:
políticas, culturais, econômicas, sociais que estavam que estavam se
desenvolvendo no Império e tiveram sua erupção na proclamação da República. Um
ponto bastante importante nesse capítulo é como Jose Murilo utiliza várias
estatísticas da época para demonstrar os impactos da abolição da escravidão e
do aumento da imigração estrangeira na demografia da cidade. Com isso trazendo
várias conseqüências como: o aumento da população masculina, o aumento de
pessoas sem emprego, a necessidade de habitações para os menos favorecidos, as
epidemias conseqüência da falta de higiene e saneamento da cidade. Para piorar
a situação ainda por cima existia o problema da inflação, que fora conseqüência
da política de emissão de notas do começo da república, que criou um forte
clima de especulação.
Outro ponto bastante importante é a questão
das agitações sociais nos primeiros anos da República, na cidade do Rio,
segundo o autor essas agitações tiveram como um dos seus fatores a forte
expectativa que esse governo gerou em relação a mudanças sociais e a maior
participação política. As mentalidades também estiveram no meio dessas
transformações, as correntes ideológicas tiveram sua importância nesse momento,
algumas ficaram mais evidentes (como o socialismo que será discutido do
capítulo II) e outras mais populares como o liberalismo e o positivismo. É
interessante como o autor destaca como a população negra agiu de forma negativa
a República, de como essa população não se viu representava por um governo que
não era favorável aos mais pobres e os libertos, como podemos citar as
manifestações contra os capoeiristas feitas por Sampaio Ferraz (CARVALHO:
1987). Sem falar que apesar dos pesares, a abolição da escravidão foi efetuada
no Império, e a república não procurou soluções para incorporar essa população
livre no âmbito social e nem se preocuparam, colocando esse problema debaixo do
tapete da República. Não é a toa que a
maioria dos presos eram monarquistas como afirma José Murilo, pois no governo
Republicano havia um enorme abismo entre os pobres e a monarquia.
Com todos esses problemas e
conflitos que passava a cidade Maravilhosa, os governantes da República ficavam
muito inseguros, eles arrumaram uma forma de manter a governo da capital foi o
decreto de governo provisório que dissolveu a câmara de vereadores da cidade e
um governo de intendência. Não eram mais votados os prefeitos eles eram
nomeados. Dessa maneira, havia a separação do governo municipal da
representação dos cidadãos, além de outras medidas políticas embasadas pelo
positivismo que acarretaram em problemas de origem maior, como no caso da
Revolta da Vacina, que será discutida posteriormente.
Para concluir um dos grandes
argumentos deste capítulo é de que a república na queria a cidade como
participadora ativa da política, queria que isso ficasse a cargo das oligarquias,
para a República a Cidade do Rio de Janeiro, deveria servir de cartão-postal, e
não que todo o povo da cidade participasse efetivamente dos processos
políticos, ou seja, exerce-se sua cidadania.
Capítulo II: República e Cidadanias
No capítulo II, o autor
se desdobrar em analisar as questões da cidadania que não era um conceito muito
utilizado pela população do Rio. Um ponto importante deste capítulo que José
Murilo de Carvalho expõe com grande maestria é a questão da República como uma
forma de governo que excluía o povo, pois a constituição de 1891 manteve a
alfabetização como exigência de voto, o que exclui parte considerável da
população que votaria. José Murilo Fala que essa restrição faria com que houvesse
uma distinção entre sociedade civil e Sociedade política, além disso, existia
até separação dos cidadãos: os cidadãos ativos e cidadãos inativos. Os primeiros
eram os cidadãos que além dos direitos civis possuíam os diretos políticos e os
segundos só os direitos civis.
Apesar de a propaganda Republicana
prometer mais participação do povo Segundo o autor, o que aconteceu não foi o
prometido. A república alimentada do liberalismo ortodoxo, fez aparecer uma
república oligárquica e antidemocrática (CARVALHO: 1987; pág. 45).
Outro ponto interessante neste
capítulo é quando o autor fala sobre o movimento Republicano em si, que era de
uma heterogeneidade grande, que abrangia grupos de diversos interesses, como por
exemplo, militares, abolicionistas, escravocratas, etc. Vale à pena destacar o
setor dos militares, que desde o fim do Império lutava por mais cidadania, e
que foram influenciados pelo positivismo. Outro grupo que se destacou foram os
Operários, que desde o fim do Império e o início da República lutavam por mais
participação política e melhorias trabalhistas, utilizavam as greves como meio
de luta política para conseguirem suas reivindicações. Também utilizavam a
imprensa para disseminarem suas consciências e lutarem por melhorias, e o
sindicalismo como meio de união e organização. Dentre esse grupo dos operários
estavam diversas correntes ideológicas: anarquistas, socialistas, etc. Uma
importante discussão sobre cidadania foi debatida entre os anarquistas e os
positivistas, os primeiros eram mais radicais negavam a ordem do estado e,
portanto a cidadania e os segundos queriam a ampliação dos direitos sociais,
porém negavam os meios de participação ao povo. O que veio a ser posto em
prática Segundo o autor foi a Estadania que podemos dizer que era: “a participação, não através da organização
dos interesses, mas a partir da máquina governamental, ou em contato direto com
ela” (CARVALHO: 1987; p. 65). Algo que se tornou quase que um costume, “o
costume de mamar nas tetas do estado”.
Capítulo III: Cidadãos Inativos: Abstenção eleitoral
Nesse
capítulo o autor procura mostrar quem era o povo do Rio de Janeiro. Inicia o
capítulo colocando as opiniões de estrangeiros sobre o povo da capital, como o
do francês Louis Couty, altamente preconceituosa e superficial ao dizer que a
cidade no Brasil não existia povo e também das opiniões dos intelectuais da
República. Na verdade para esses grupos a inexistência do povo era considerada,
não pela falta da população cívica de fato, mais de querer que no Brasil o povo
seguisse os padrões da população Européia. O próprio José Murilo assume que é
exagerada essa concepção de que no Brasil não existia povo, quando descreve
algumas revoltas no período imperial e no início da República. O povo não
deixou de lutar por seus direitos durante a República, a prova disso são as greves
existentes nesse período. Sem contar nas posições xenófobas durante o governo
de Floriano, que geravam uma onda de violência contra os estrangeiros,
principalmente os portugueses.
Porém a visão eurocêntrica não
deixava que “o povo fosse visto como povo” queria apenas os cidadãos ativos “a
moda européia”. Através desse problema o autor procura encontrar o povo através
de dois tópicos nesse capítulo. O primeiro chamado de O povo dos censos, o autor através dos censos da época, descreve
que apesar da grande quantidade de imigrantes na capital, poucos queriam
aceitar a naturalização brasileira, (segundo o próprio autor apenas 20% da
população de estrangeiros aceitaram a opção pela nacionalidade brasileira), sendo
assim evitando exercer a cidadania, como por exemplo, o direito ao voto. A
outra parte do capítulo que trata do povo se intitula O povo político, no qual o autor busca encontrar o povo político
por meio dos meios oficiais, como o voto, e que encontramos informações assustadoras:
Que segundo o censo de 1890, numa população de 515 559 pessoas só 109421 eram
aptas para o voto. Ou seja, o no governo republicano a ampliação da
participação política era algo fora de questão. Além disso, dessas pessoas
restantes poucas iriam de fato para as urnas. A auto-exclusão era muito grande
(CARVALHO: 1987; p. 85,86). A razão dessa auto-exclusão era gerada devido a
diversos fatores como: a fraude eleitoral, o risco que existia em votar, pois
alguns políticos para assegurassem seus votos levavam capangas, capoeirista
para coagir os eleitores a votarem nele. No fim do capítulo, o autor concorda
com a tese que o Rio não possuía povo, em termos políticos oficiais é claro, que
povo não conseguia reivindicações pela forma oficial só através de
quebra-quebra e bagunças. Porém será que se o povo não conseguisse nada através
da forma oficial, seria necessário todo esse aparato contra a eleição? Como as
fraudes eleitorais e o uso da violência contra o voto?
Capítulo IV: Cidadãos
Ativos: A Revolta da Vacina
Nesse capítulo o autor tratada Revolta
da Vacina, umas das principais revoltas do início da Primeira república, que
teve como razão principal para a revolta a vacinação obrigatória contra a
varíola. Foi no governo de Rodrigues Alves que ocorreu a revolta, durante suas
medidas reformistas para melhorar a cidade do Rio de Janeiro. Dentre suas
medidas, estavam medidas de saúde pública, que tinha como Diretor de Serviço de
Saúde, o grande médico Oswaldo Cruz, que foi quem implantou essa política da
vacinação obrigatória. O capítulo é desenvolvido em três partes: a revolta em que o autor narra os
episódios da revolta antes da acontecer até o seu fim, e as medidas que foram
tomadas após o fim do conflito. Os
revoltosos, em que o autor tenta passar uma idéia de quem fez parte daquele
movimento que sacudiu a capital do país em Novembro de 1904.
E
por último a conclusão, em que faz uma síntese do que realmente foi A Revolta
da vacina, que foi uma manifestação do povo em busca de seus direitos de
cidadania, apesar de muitos jornais da época como O Paiz, descreverem que a revolta não passou de um tumulto de
arruaceiros, a revolta foi muito mais que isso. Foi à prova que o povo apesar
de todos os impasses pela via legal, de participação política poderia mostra ao
governo da República, que poderiam lutar pelos seus direitos e que não era
sempre massa de manobra.
Capítulo V: Bestializados ou
Bilontras?
Neste
último capítulo o autor tenta identificar quais das duas situações se
encontravam os cidadãos fluminenses: Se eram Bilontras ou Bestializados. Antes
disso o autor faz uma pequena discussão sobre como a população tinha um déficit
em participação política e a que em questão de festas populares era muito mais
presente. Do costume das associações e da falta de ação política. Segundo o
autor como vimos em capítulos anteriores, ação política se dava em meios não
oficiais, ou seja, em protestos, revoltas, e quando se viam as queixas do povo,
através de um estudo realizado por Eduardo Silva, o autor mostra que os
habitantes se preocupavam em culpar os agentes do governo e não o Estado em si dentro
dessa visão pode-se incluir que o povo não se via como ator da política do
Estado, ou como diz o próprio José Murilo: “É
uma visão antes de súdito que de cidadão, de quem se coloca como objeto da ação
do Estado e não de quem se julga no direito de influenciá-la” (CARVALHO: 1987;
p. 147).
Ao desenvolver o capítulo o autor
vai escrevendo sobre a diferença do espírito individualista da cultura norte-americana,
ligados a herança protestante, e o espírito de coletividade do brasileiro
ligado à cultura ibérica, José Murilo usa essas teses para explicar o porquê
dessa diferença da cidadania entre os dois países. Enquanto um é preocupado em
exercer a cidadania para o bem comum o outro só para o enriquecimento
particular ou o dos mais próximos. Exemplificamos como a República teve várias
associações comunitárias. Porém só isso na era necessário para explicar o que
acontecia no Rio de Janeiro, pois a cidade possuía uma história própria e única
e não deveria ser comparada com outras cidades européias para a explicação
desse fato. A cidade tinha seu próprio organismo particular, herdava algo da
cultura ibérica, mas no Rio de Janeiro, criou-se uma identidade própria.
Segundo o autor é essa identidade de malandragem de esperteza que vai ser
característica de grande parte do povo, é que podemos explicar também o cenário
político. A população achava que a República era uma farsa, e quem agisse de
forma oficial em busca de direitos era o “bestializado”, Ser bilontra consistia
em ser esperto, em agir conforme a tocava o som da banda, fingir que acreditava
que a República não era uma mulher mascarada.
Conclusão
Durante
a conclusão o autor tenta destacar o que escreveu sobre a cidade do Rio, os
cidadãos e as suas relações com a república, apesar de ter como missão do livro
demonstrar quem era o povo da Capital da república, ainda fica u pouco vago a
quem era essa população. O livro tais importantes informações e abordagens,
porém, peca um pouco na questão de que a visa que o autor tem para elaborar o
estudo do povo é um pouco elitista, ou seja, é uma visão do povo pelo “ponto de
vista de cima” e não no próprio seio do povo. O que podemos destacar também é
que apesar de o povo ter grande exclusão no processo eleitoral, não deixava de
encontrar alguma maneira de enfrentar o governo, mesmo que fosse à sua maneira de
enxergar o que seria o desrespeito de sua cidadania.
Bibliografia
CARVALHO, José Murilo. Os bestializados: o Rio Janeiro e a
República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
Fichamento e não resenha!
ResponderExcluirNota 7.0