Por Andrezza Melo
“O povo sabia que o formal não era sério.Não havia caminhos de
participação,a República não era para valer.Nessa perspectiva,o bestializado
era quem levasse apolítica a sério,era o que prestasse à manipulação.[...]Quem
apenas assistia.como fazia o povo do Rio por ocasião das grandes transformações
realizadas a sua revelia,estava longe de ser bestializado.Era
bilontra”.Esta fora o trecho final em que José Murilo de
Carvalho em seu livro - Os Bestializados - conclui sua indagação principal sobre “quem era o que era” o povo
carioca.
José Murilo ao longo de seu livro irá levantar,questões sobre o
real motivo da não participação popular em assuntos políticos,sua apatia,que
será vista por muitos como a própria “inexistência do povo”,como as afirmativas
famosas de Louis Couty “não há povo no Brasil e de Aristides Lobo “o povo
assistiu bestializado a proclamação da República”,essa afirmação irá
impulsionar a obra, a busca do povo no recorte delimitado pelo autor da
transição do Império para a República.Sobre esse liame,José Murilo evidencia em
sua narrativa o turbilhão de pensamentos que planavam sobre o Rio naquele
momento.As ideologias importadas da Europa,jacobinismo,positivismo,socialismo e
também não podemos esquecer do pensamento liberal que já adentrara no Brasil
desde período Imperial.
Um rol de idéias que poderiam nortear o novo Brasil Republicano que
ansiava à equiparar-se com o velho
mundo.Entretanto,tudo isso ficou no plano quimérico,o Brasil estava longe de
ser uma “Europa dos trópicos”,as ideologias importadas como o próprio José
Murilo salienta foram “idéias mal
absorvidas de modo parcial e seletivo,resultando em grande confusão ideológica”
pg.42
Passado a efervescências e dos “vivas à República”, o que se
configurou fora o inverso proposto e
almejado pelo que se buscava em uma República ,a participação ativa e direitos ao
povo de se expressar politicamente.O autor evidencia que a República,ou
chamados vitoriosos da República,fizeram muito pouco para expandir os direitos
civis e políticos em geral.Percebemos
que tacitamente José Murilo faz
observações sobre as melhores condições de interação do povo com o Estado no
período Imperial,isso pode denotar o próprio posicionamento do autor diante sua avaliação a respeito das
transformações ocorridas no período de Império e posteriormente após a
Proclamação da República,mas podemos reconhecer que a República que fora tão sonhada não
atenderam as expectativas de quem achava que poderia exercer a cidadania,pois falando nela, a concepção de
cidadania seria algo amplo para as ideologias importadas, desde a noção
positivista que não existiria cidadão ativo( uma concepção que o autor irá trabalhar seriam aqueles que teriam os direitos civis e políticos,como
direito ao voto,e os inativos que com o
direito civil,sem muita extensões)só os inativos que deveriam ancorassem no
Estado,ou até mesmo a noção de soldado-cidadão dos militares buscando com isso interagir nos processos
políticos e no poder de decisão da
sociedade,que fora eclipsada com o rol de presidentes civis,ou em palavras do
Lauro Sodré os “fazendeiros”,pois estavam ligados a agricultura,sobretudo
cafeeira.
Porém,dentro das diferentes concepções apresentadas por José Murilo se
vê a “resistência em permitir a
ampliação da cidadania”pg.56.O desencanto
com as propostas esguias sobre a
participação e limitação do cidadão.Esse ponto
é importante,pois a questão sobre cidadania brasileira é ampla,no
sentido que é necessário avaliar quem era considerado cidadão;a cidadania era
para poucos,o governo Republicano estimulava,de certa forma,um círculo vicioso
da não criação de políticas públicas para a integração dos que deveriam ser
chamados de cidadãos – o povo- ou seja,quando José Murilo de Carvalho cita a
frase de Louis Couty,enxergamos que na
verdade o biólogo francês via nos brasileiros uma falta de integração na vida
pública,uma certa alienação diante seu meio social;falta de propostas de
mudanças.Por outro lado,como já dito o governo estimulou mecanismo de
afastamento da participação popular na vida pública,observemos também que o
modelo de cidadão de Couty é um tipo europeu, por esse pequeno detalhe ,
realmente não encontraria povo algum.
Um exemplo de participação popular e da não “ bestialização” do próprio
povo se encontra na Revolta da vacina,embora José Murilo distenda sobre A
Vacina e outros motins populares, abre ressalvas sobre como fora a interação e
integração do povo nessa revolta, e os motivos apontados como fortes para a
deflagração desse movimento.
“Os bondes começaram a ser atacados,derrubados e queimados. Foram
quebrados combustores de gás e cortados os fios da iluminação elétrica da
avenida central. Surgiram as barricadas, primeiro na avenida Passos, depois nas
ruas adjacentes.”pg.104
José Murilo de Carvalho analisa A revolta da vacina buscando encontrar
quem foram os revoltosos dessa manifestação e os seus motivos, ampliando a
perspectiva do senso comum que A revolta a da vacina não fora simplesmente um motim
popular contra a obrigatoriedade da
vacina da varíola, temos que desmistificar
a idéia que a vacina fora implementada no Rio por pura política de saneamento e
busca por melhoria da saúde pública.
A Revolta da vacina fora usada como estandarte por alguns grupos como o Lauro
Sodré e Cia para em meio da revolta usa-lá como pretexto para mobilização para
em fins políticos ,na volta do florianismo que tanto era ansiado por alguns
setores militares.
Temos que relembrar o Rio de no
final d século XIX e início do século XX,a efervescência pela Proclamação da República trouxe uma nova
composição no cenário carioca.Imigrantes,ex-
escravos,comerciantes,operários,vagabundos,todos dentro do olho do furação.Uma
perspectiva de desenvolvimento econômico e tentativa de reabilitação,depois da
“política inflacionária" de Campos Sales.As política de saneamento,de urbanismo eram para estimular
investimentos estrangeiros para o Brasil.Pensando em outro autor que trabalha a
Revoltada Vacina é o Nicolau Sevcenko que mostra muito bem cenário inicial a formação das políticas desenvolvimento econômico,de saneamento
e também o “arrojado” projeto urbanístico de Pereira Passos.
A Revolta fora uma forma do povo se rebelar contra as políticas
públicas,que já insatisfaziam a
população em geral.A
Revolta fora a representação do estopim.O povo não agüentava
mais.José Murilo tentará traçar “o
perfil dos revoltosos e recai em uma constante ao longo de sua obra em
comparações entre o Brasil e a Europa,tenta diferenciar os revoltosos populares parisienses os revoltosos populares brasileiros e demonstra que o
povo não era tão apático as questões políticas e salienta outros motins
populares no decorrer do fim do Império e os primeiros anos a República. O
autor evidencia as dificuldades históricas em encontrar o personagem – o povo
–em movimentos revoltosos e como sua existência fora propositalmente eclipsada
da história.No geral,escolhemos os “líderes” para serem exaltados ou execrados
na História.
Para alguns, o povo da revolta não era uma massa “revoltada” pelas
política públicas instituídas pelos governo,mas sim, um bando de desordeiros,vagabundos
que perambulavam nas ruas cariocas.uma tentativa de retirar do povo uma
consciência de insatisfação diante o regime da República.O povo seria “massa de
manobra” de grupos que se interessavam pela desordem do governo e tinham a ele,outros objetivos guardados.
Mas o povo tinha motivos para se
mobilizar,se rebelar,embora,o autor saliente que a grande justificativa da revolta
seria por questões morais é sua avaliação;discordo por achar que nesse momento
como em outros,José Murilo corrobora com
um pensamento diminuto sobre o povo.Em uma análise geral, o povo é
sempre visto como os “fracos e oprimidos” essa perspectiva contribui para a
formação de um imaginário de que as
camadas populares absténs das manifestações políticas e se deixa
conduzir pelos grupos ologárquicos.
José Murilo enfim chega em seu veredicto, povo era bilontra,ou seja, o
povo sabe dos conflitos sociais,políticos,mas “não leva a sério” por que o
próprio governo se exime das responsabilidades de conduzir o Estado.O povo
descrebiliza a política,o povo está “se lixando” pelo governo por que sabe que
a “República não era para valer”.
Redação muito confusa, mas a tentativa de fazer a resenha foi boa.
ResponderExcluirNota 8.0