segunda-feira, 16 de abril de 2012

“República não era para valer”. Resenha do livro Os Bestializados - o Rio de Janeiro e a República que não foi de José Murilo de Carvalho


Por Andrezza Melo

“O povo sabia que o formal não era sério.Não havia caminhos de participação,a República não era para valer.Nessa perspectiva,o bestializado era quem levasse apolítica a sério,era o que prestasse à manipulação.[...]Quem apenas assistia.como fazia o povo do Rio por ocasião das grandes transformações realizadas a sua revelia,estava longe de ser bestializado.Era bilontra”.Esta  fora o trecho final em que José Murilo de Carvalho em seu livro - Os Bestializados  - conclui sua indagação  principal sobre “quem era o que era” o povo carioca.

José Murilo  ao longo  de seu livro irá levantar,questões sobre o real motivo da não participação popular em assuntos políticos,sua apatia,que será vista por muitos como a própria “inexistência do povo”,como as afirmativas famosas de Louis Couty “não há povo no Brasil e de Aristides Lobo “o povo assistiu bestializado a proclamação da República”,essa afirmação irá impulsionar a obra, a busca do povo no recorte delimitado pelo autor da transição do Império para a República.Sobre esse liame,José Murilo evidencia em sua narrativa o turbilhão de pensamentos que planavam sobre o Rio naquele momento.As ideologias importadas da Europa,jacobinismo,positivismo,socialismo e também não podemos esquecer do pensamento liberal que já adentrara no Brasil desde período Imperial.
Um rol de idéias que poderiam nortear o novo Brasil Republicano que ansiava à equiparar-se  com o velho mundo.Entretanto,tudo isso ficou no plano quimérico,o Brasil estava longe de ser uma “Europa dos trópicos”,as ideologias importadas como o próprio José Murilo salienta  foram “idéias mal absorvidas de modo parcial e seletivo,resultando em grande confusão ideológica” pg.42

Passado a efervescências e dos “vivas à República”, o que se configurou  fora o inverso proposto e almejado pelo que se buscava em uma República,a participação ativa e direitos ao povo de se expressar politicamente.O autor evidencia que a República,ou chamados vitoriosos da República,fizeram muito pouco para expandir os direitos civis e políticos em geral.Percebemos  que tacitamente José  Murilo faz observações sobre as melhores condições de interação do povo com o Estado no período Imperial,isso pode denotar o próprio posicionamento  do autor diante sua avaliação a respeito das transformações ocorridas no período de Império e posteriormente após a Proclamação da República,mas podemos reconhecer que  a República que fora tão sonhada não atenderam as expectativas de quem achava que poderia exercer  a cidadania,pois falando nela, a concepção de cidadania seria algo amplo para as ideologias importadas, desde a noção positivista que não existiria cidadão ativo( uma concepção que  o autor irá trabalhar seriam aqueles  que teriam os direitos civis e políticos,como direito ao voto,e os inativos que  com o direito civil,sem muita extensões)só os inativos que deveriam ancorassem no Estado,ou até mesmo a noção de soldado-cidadão dos militares  buscando com isso interagir nos processos políticos e no poder de decisão  da sociedade,que fora eclipsada com o rol de presidentes civis,ou em palavras do Lauro Sodré os “fazendeiros”,pois estavam ligados a agricultura,sobretudo cafeeira.

Porém,dentro das diferentes concepções apresentadas por José Murilo se vê  a “resistência em permitir a ampliação da cidadania”pg.56.O desencanto  com as propostas esguias  sobre a participação e limitação do cidadão.Esse ponto  é importante,pois a questão sobre cidadania brasileira é ampla,no sentido que é necessário avaliar quem era considerado cidadão;a cidadania era para poucos,o governo Republicano estimulava,de certa forma,um círculo vicioso da não criação de políticas públicas para a integração dos que deveriam ser chamados de cidadãos – o povo- ou seja,quando José Murilo de Carvalho cita a frase de Louis Couty,enxergamos que  na verdade o biólogo francês via nos brasileiros uma falta de integração na vida pública,uma certa alienação diante seu meio social;falta de propostas de mudanças.Por outro lado,como já dito o governo estimulou mecanismo de afastamento da participação popular na vida pública,observemos também que o modelo de cidadão de Couty é um tipo europeu, por esse pequeno detalhe , realmente não encontraria povo algum.
Um exemplo de participação popular e da não “ bestialização” do próprio povo se encontra na Revolta da vacina,embora José Murilo distenda sobre A Vacina e outros motins populares, abre ressalvas sobre como fora a interação e integração do povo nessa revolta, e os motivos apontados como fortes para a deflagração desse movimento.

“Os bondes começaram a ser atacados,derrubados e queimados. Foram quebrados combustores de gás e cortados os fios da iluminação elétrica da avenida central. Surgiram as barricadas, primeiro na avenida Passos, depois nas ruas adjacentes.”pg.104
José Murilo de Carvalho analisa A revolta da vacina buscando encontrar quem foram os revoltosos dessa manifestação e os seus motivos, ampliando a perspectiva do senso comum que A revolta a da vacina não fora simplesmente um motim popular  contra a obrigatoriedade da vacina da varíola, temos que  desmistificar a idéia que a vacina fora implementada no Rio por pura política de saneamento e busca por melhoria da saúde pública.

A Revolta da vacina fora usada como estandarte por alguns grupos como o Lauro Sodré e Cia para em meio da revolta usa-lá como pretexto para mobilização para em fins políticos ,na volta do florianismo que tanto era ansiado por alguns setores militares.   

Temos que relembrar  o Rio de no final d século XIX e início do século XX,a efervescência  pela Proclamação da República trouxe uma nova composição no cenário carioca.Imigrantes,ex- escravos,comerciantes,operários,vagabundos,todos dentro do olho do furação.Uma perspectiva de desenvolvimento econômico e tentativa de reabilitação,depois da “política inflacionária" de Campos Sales.As política de saneamento,de urbanismo eram para estimular investimentos estrangeiros para o Brasil.Pensando em outro autor que trabalha a Revoltada Vacina é o Nicolau Sevcenko que mostra muito bem  cenário inicial a formação das políticas desenvolvimento econômico,de saneamento e também o “arrojado” projeto urbanístico de Pereira Passos.

A Revolta fora uma forma do povo se rebelar contra as políticas públicas,que já insatisfaziam  a população em geral.A Revolta fora a representação do estopim.O povo não agüentava mais.José  Murilo tentará traçar “o perfil dos revoltosos e recai em uma constante ao longo de sua obra em comparações entre o Brasil e a Europa,tenta diferenciar os revoltosos populares parisienses  os revoltosos populares brasileiros e demonstra que o povo não era tão apático as questões políticas e salienta outros motins populares no decorrer do fim do Império e os primeiros anos a República. O autor evidencia as dificuldades históricas em encontrar o personagem – o povo –em movimentos revoltosos e como sua existência fora propositalmente eclipsada da história.No geral,escolhemos os “líderes” para serem exaltados ou execrados na História.

Para alguns, o povo da revolta não era uma massa “revoltada” pelas política públicas instituídas pelos governo,mas sim, um bando de desordeiros,vagabundos que perambulavam nas ruas cariocas.uma tentativa de retirar do povo uma consciência de insatisfação diante o regime da República.O povo seria “massa de manobra” de grupos que se interessavam pela desordem do governo e tinham  a ele,outros objetivos guardados.

Mas o povo  tinha motivos para se mobilizar,se rebelar,embora,o autor saliente que a grande justificativa da revolta seria por questões morais é sua avaliação;discordo por achar que nesse momento como em outros,José Murilo corrobora com  um pensamento diminuto sobre o povo.Em uma análise geral, o povo é sempre visto como os “fracos e oprimidos” essa perspectiva contribui para a formação de um imaginário de que as  camadas populares absténs das manifestações políticas e se deixa conduzir pelos grupos ologárquicos.

José Murilo enfim chega em seu veredicto, povo era bilontra,ou seja, o povo sabe dos conflitos sociais,políticos,mas “não leva a sério” por que o próprio governo se exime das responsabilidades de conduzir o Estado.O povo descrebiliza a política,o povo está “se lixando” pelo governo por que sabe que a “República não era para valer”.


Um comentário:

  1. Redação muito confusa, mas a tentativa de fazer a resenha foi boa.
    Nota 8.0

    ResponderExcluir